UM HERÓI POTIGUAR DA FEB – A HISTÓRIA DO SARGENTO RODOVAL CABRAL DA TRINDADE E O COMBATE DE SAN QUIRICO

Rostand Medeiros – https://pt.wikipedia.org/wiki/Rostand_Medeiros

Agradecimento especial ao escritor e pesquisador Durval Lourenço Pereira pela ajuda com informações adicionais para esse texto.

Sabemos que seis potiguares morreram na Itália durante a Segunda Guerra Mundial, integrando a Força Expedicionária Brasileira, a famosa FEB. Eles eram os soldados Belarmino Ferreira da Silva, José Varela, Manoel Lino de Paiva, Cosme Fontes Lira e os sargentos Wilson Viana Barbosa e Rodoval Cabral da Trindade.

Mas quando buscamos maiores informações sobre cada um desses participantes do conflito, os resultados são bem limitados, com lacunas bastante amplas para compreender suas histórias. Um exemplo é o caso do sargento Rodoval Cabral da Trindade.

Rodoval Cabral da Trindade.

Basicamente temos as informações que ele era um sargento do Exército Brasileiro, que havia nascido na cidade de Ceará-Mirim e que morreu de um acidente de jipe no dia 6 de junho de 1945, após o final da Guerra na Europa.

Mesmo com dificuldades, conseguimos mais detalhes sobre a vida desse homem e a sua participação nesse conflito. Elas mostram interessantes informações do envolvimento de um potiguar na Segunda Guerra e aprofunda o entendimento sobre aqueles que partiram para lutar na Europa.

Tiro de Guerra 18

Rodoval era filho do funcionário público João Cândido da Trindade, casado com Emília Cabral da Trindade. Tudo indica que o casal era natural da cidade de Ceará-Mirim, onde seu filho Rodoval nasceu em 1909. Ele era um dos nove filhos do casal, sendo seis homens e três mulheres. Não sabemos a data, mas, provavelmente, em algum ano da década de 1920 a família Cabral da Trindade se mudou de Ceará-Mirim para Natal, onde moravam na Rua Laranjeira, número 26, na Cidade Alta, perto da Igreja do Galo.[1]  

A antiga e simples residência da família Cabral da Trindade em Natal.

Tudo aponta que essa família era muito católica, pois todos os anos, sempre no mês de abril, Seu João Cândido participava da tradicional e secular Procissão do Encontro. Essa tendência foi seguida pelo seu filho Rodoval, que participou da Congregação Mariana de Moços, tradicional organização católica da cidade. E Seu João tinha de ter mesmo muita fé, pois para sustentar a esposa e nove filhos só possuía os minguados salários do cargo de porteiro do Serviço de Estatística do Estado do Rio Grande do Norte.[2]

Mesmo com as limitações, sabemos também que o jovem Rodoval foi membro do tradicional Centro Náutico e remava com seus amigos no tranquilo e, na época, limpo rio Potengi, certamente competindo com os adversários do Sport Club de Remo.

Outra atividade desse jovem em Natal, que certamente marcou sua vida, foi participar do Tiro de Guerra 18, ou T. G. 18.

Rodoval Cabral da Trindade – Foto gentilmente cedida pelo escritor e pesquisador Durval Lourenço Pereira.

Essa era uma pequena unidade do Exército Brasileiro mantida em parceria com o município de Natal e responsável pela formação de reservistas de segunda categoria do serviço militar. Fundado em 1908, tinha sede no bairro do Alecrim, sendo normalmente comandada por um sargento, ou um tenente, com turmas que variavam anualmente de 35 a 45 rapazes. Esse pessoal fazia muita ordem unida, longas marchas, treinos de tiro ao alvo e desfilava garbosamente na Avenida Deodoro durante as comemorações do 7 de setembro. Entre os participantes ilustres do Tiro de Guerra 18 consta o maestro Waldemar de Almeida [3], que lá esteve na segunda metade da década de 1920. Outro que recebeu a sua carteira de reservista de segunda categoria foi o advogado, professor e político mossoroense Otto de Brito Guerra. Esse último foi contemporâneo do jovem Rodoval Cabral da Trindade quando esteve nessa instituição em 1928. Consta que Otto Guerra participou da marcha de 24 quilômetros, com fuzil no ombro e tudo mais.  

O Tiro de Guerra 18 era um lugar onde o esporte era intensamente praticado e incentivado.[4] Um dos feitos esportivos mais marcantes foi ter participado e vencido a primeira competição pública de basquete realizada no Rio Grande do Norte.

Arquibancada coberta do “Stadium” Juvenal Lamartine, onde aconteceu a primeira disputa pública de basquete no Rio Grande do Norte em 1931 e o Tito de Guerra 18, onde Rodoval Cabral serviu ganhou a disputa com o 29º Batalhão de Caçadores.

O fato ocorreu em 1931, em pleno estádio de futebol Juvenal Lamartine, onde improvisaram uma quadra de basquete não sei de que jeito e o Tiro de Guerra 18 venceu a poderosa equipe do 29º Batalhão de Caçadores do Exército Brasileiro. Digo poderosa porque o pessoal do 29º treinava muito e tinha até mesmo à disposição uma quadra de basquete. Mesmo sendo de barro batido essa quadra possuía dimensões oficiais e ficava onde atualmente se encontra o SESC da Cidade Alta. A equipe do 18 era formada, entre titulares e reservas, por Humberto Nesi, Luiz Tavares de Souza, Alberto Gentile, Zacarias Cunha, José Maia Mousinho e Miguel Ferreira da Silva. Esse pessoal era treinado pelo tenente Francisco Antônio do Nascimento, o conhecido “Chicó”, por anos comandante do Tiro de Guerra, e pelo soldado Severino Estevam dos Santos, o “Jaú”. Todo esse pessoal foi contemporâneo de Rodoval.[5]

Caminho da Guerra

Após deixar o Tiro de Guerra 18 temos a informação que Rodoval Cabral da Trindade passou a ser aluno da Escola Técnica de Comércio do professor Ulisses de Góis, que na década de 1930 ficava na Rua João Pessoa, no Centro de Natal [6]. Rodoval se preparava para exercer a função de guarda-livros, ou seja, escriturar e manter em boa ordem os livros mercantis das empresas comerciais. O que hoje chamamos de contadores.

Bairro da Ribeira, na bucólica Natal das primeiras décadas do século XX. : Fonte – https://www.brechando.com/2017/09/esta-praca-parece-do-interior-do-estado-mas-fica-em-natal/

Naquela época esse era o típico trabalho desejado pelas famílias de classe média baixa de Natal. A maior parte delas formada por funcionários públicos de baixo escalão, que recebiam minguados rendimentos e que através de favores políticos entravam aos montes no serviço público estadual.

Certamente pelo tempo e pelas experiências vividas no Tiro de Guerra 18, o jovem Rodoval largou a Escola de Comércio no último ano e se alistou voluntariamente no Exército Brasileiro como soldado. Provavelmente essa sua deliberação não deve ter sido tomada sem rupturas na sua família, pois Rodoval acabava de tomar a decisão de descer voluntariamente os poucos degraus que a sua condição social lhe proporcionava naquela provinciana Natal de pouco menos de 40.000 habitantes e uma elite extremamente preconceituosa e abertamente racista.

Foto de um soldado da Forças Pública, nesse caso de Pernambuco. Nas décadas de 1920 e 1930 os uniformes militares dessas instituições militares estaduais pouco diferiam, sendo sempre na predominante cor cáqui. na imagem vemos o Soldado Heleno Tavares de Freitas – Fonte – Valdir José Nogueira de Moura.

Naqueles dias para ter prestígio como membro das Forças Armadas só sendo oficial, algo para poucos. Já ser um soldado no Exército Brasileiro não era uma situação considerada “desrespeitosa” pela sociedade, mas era o tipo de profissão que, no entendimento geral, só entrava quem não tinha maiores perspectivas, ou por pura vocação. Mas estava um patamar acima da pessoa que era soldado na Força Pública, atual Polícia Militar.

No caso de Rodoval eu acho que foi vocação mesmo, pois ser um guarda-livros em Natal, mesmo com perspectivas salariais baixas, poderia ser um caminho para conseguir através de apadrinhamento político uma sinecura em alguma repartição pública e ter a tão sonhada estabilidade.

1939 – 6º Regimento de Infantaria de Caçapava. Foto: Iris, Créditos: Nelson de Luccas – Fonte – Caçapava/SP História, Fotos e Caçapavenses

A próxima notícia que temos sobre esse potiguar é que ele foi servir bem longe do Rio Grande do Norte. Seguiu para São Paulo, onde esteve aquartelado em unidades militares existentes nas cidades de Jundiaí, Taubaté e Caçapava. Nessa parte do Brasil ele se casou com a jovem Araci Marques da Trindade, mas não tiveram filhos.[7]

Em 1941 encontramos Rodoval servindo no 6º Regimento de Infantaria de Caçapava, com a extinta patente de “primeiro cabo”, sendo promovido em 25 de julho daquele ano ao posto de terceiro sargento, conforme está descrito na notificação existente no Boletim Interno número 171 do Exército Brasileiro.[8]

Nesse meio tempo nuvens negras surgiram no horizonte do Brasil, com o intenso rufar dos tambores de guerra ecoando na Europa e na Ásia. Em 22 de agosto de 1942, após a declaração de guerra do Brasil à Alemanha Nazista e à Itália Fascista, o país entra em mobilização total.

Militares norte-americanos em Parnamirim Field – Fonte – Getty Images

Não sei se através de jornais, ou por contatos com a sua família, Rodoval soube que na cidade onde seus parentes viviam e onde passou grande parte de sua juventude, estava ocorrendo uma intensa mudança. Milhares de militares dos Estados Unidos e do sul do Brasil ocupavam a capital potiguar. Nos céus aeronaves de vários tipos partiam e chegavam diariamente, aproveitando a privilegiada posição estratégica do Rio Grande do Norte em relação ao Atlântico Sul e a costa ocidental africana.

Através de outras pesquisas realizadas pelo autor, descobri que não era raro a transferência para Natal de militares nascidos no Rio Grande do Norte e que se encontravam servindo em outras regiões do país. Isso certamente se destinava a facilitar o entrosamento dos muitos militares brasileiros que desembarcavam em Natal para reforçar as defesas na região. Mas essa situação não aconteceu com o sargento Rodoval.

No começo de 1943 ele recebeu ordens de se apresentar no Quartel General do Exército no Rio de Janeiro, para participar do C. R A. S, sigla do Curso Regional de Aperfeiçoamento de Sargentos.[9] Dois meses depois, Rodoval foi promovido a segundo sargento, junto com outros 21 colegas do 6º Regimento de Infantaria.[10] Em agosto ele concluiu o C. R. A. S. e aguardou novas ordens.[11]

Símbolo da FEB.

Certamente o sargento Rodoval e seus companheiros sentiam que se aproximava a hora de pegar em armas e partir para o front de combate, onde comandariam grupos de soldados destinados a matar o maior número de inimigos, pois era para nisso que treinavam arduamente. Logo o governo brasileiro publicou a Portaria Ministerial nº 4.744, que criava a Força Expedicionária Brasileira, que se tornaria a primeira e única força militar formada na América Latina a lutar na Europa. Rodoval recebeu o número 2-G-87320 para sua identidade militar.

No General Mann

Quase um ano depois, em uma quinta-feira, 29 de junho de 1944, o sargento Rodoval e centenas de companheiros partiram da Vila Militar, na zona oeste do Rio, em um trem da Estrada de Ferro Central do Brasil até o cais da Praça Mauá. Ali começou o embarque dos soldados da FEB no grande navio USS General William Abram Mann (AP-112), ou simplesmente General Mann, como ficou mais conhecido entre nossos soldados.

Força Expedicionária Brasileira embarcando no Rio de Janeiro. Destino – A frente italiana.

Aquela grande nave da Marinha dos Estados Unidos (US Navy) estava atracada no Píer 10 e era enorme. Pesava mais de 17.000 toneladas, tinha quase 200 metros de comprimento, navegava com a velocidade máxima de 19 nós (35 km/h) e podia transportar 5.000 homens destinados ao combate em qualquer parte do Globo. A grande nave era comandada pelo capitão Paul Sylvester Maguire.

Ao redor do porto havia muita segurança e isolamento. Gente de toda parte do país, com seus sotaques, cores, trejeitos e maneiras próprias entraram na grande nave carregando sacos de lona. O general Mascarenhas de Moraes, o comandante da FEB, embarcou para o exterior junto com 5.074 homens que formavam o 1º Escalão de combatentes.

Navio transporte de tropas USS General W. A. Mann. Em 1944 ele levou os primeiros combatentes da FEB para a Itália.

Mascarenhas de Morais listou as primeiras unidades da FEB transportadas no General Mann – Escalão Avançado do Quartel General da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE), Estado Maior da Infantaria Divisionária da 1ª DIE, 6º Regimento de Infantaria, 4ª Companhia e 1º Pelotão de Metralhadoras do 11º Regimento de Infantaria, II Grupo do 1º Regimento de Obuses Auto Rebocados, 1ª Companhia do 9º Batalhão de Engenharia, uma parte da Seção de Suprimento e Manutenção do 9º Batalhão de Engenharia, 1º Pelotão do Esquadrão de Reconhecimento, Seção de Exploração e elementos da Seção de Comando da 1ª Companhia de Transmissões, 1ª Companhia de Evacuação, o Pelotão de Tratamento e elementos da Seção de Comando, todos do 1º Batalhão de Saúde, Companhia de Manutenção, Pelotão de Polícia Militar, um pelotão de viaturas, uma Seção do Pelotão de Serviços e elementos da Seção de Comando da 1ª Companhia de Intendência, o Correio Regulador, o Depósito de Intendência, a Pagadoria Fixa, os jornalistas que iriam trabalhar como correspondentes de guerra, elementos do Hospital Primário, Serviço de Justiça e o pessoal do Banco do Brasil.[12]

Militar brasileiro de patente elevada passando em ordem a guarda de Fuzileiros navais (Marines) a bordo do General Mann. Eram estes fuzileiros que mantinha a ordem a bordo.

Não sabemos quantos, mas temos a certeza que o sargento Rodoval Cabral da Trindade não era o único potiguar a bordo do General Mann. Outro Norte-rio-grandense era o soldado João Alves Coelho, nascido em 1923 e que em 1940 havia seguido para o Rio de Janeiro com o intuito de aprender uma profissão para melhorar a sua vida e a de sua família. Ele estudou mecânica na então Capital Federal, quando foi convocado para a guerra como integrante da FEB. Foi incorporado na Companhia de Manutenção, onde praticou extensamente a profissão que aprendeu no Rio. Não sabemos se o sargento Rodoval e o soldado Coelho se conheceram.[13]

No domingo, 2 de julho, às cinco e quarenta e três da manhã, o General Mann desatracou e partiu. Nos próximos quatorze dias a nave seguiria pelo Oceano Atlântico e pelo Mar Mediterrâneo a velocidade média de 17 nós e sempre ziguezagueando para evitar ataques de submarinos. Inicialmente essa nave americana foi escoltada pelos destroieres brasileiros Marcílio Dias, Greenhalgh e Mariz e Barros.[14]

A chegada no Porto de Nápoles, sul da Itália, ocorreu no dia 16 de julho, às 12:20 horas, também num domingo. No cais havia um destacamento norte-americano de quarenta e cinco homens e uma banda para as honras militares.

A guerra para a FEB estava começando!

Um Líder Controverso

Desembarque da FEB em Nápoles em 1944.

Após o desembarque em Nápoles, a FEB ficou acampada no subúrbio da cidade, na região de Agnaro/Bagnoli, perto do mar. O interessante foi que eles acamparam dentro da cratera do extinto vulcão Astroni, cujas bordas possuem 70 metros de altura e atualmente é uma área de preservação. Nessa cratera a temperatura variou bastante, com picos de elevação durante o dia de 30 graus à sombra e a noite descendo para terríveis 10 graus. O contingente brasileiro logo se mudou desse local complicado e ficou aguardando receber seus equipamentos de combate e suas viaturas. 

Veículos da FEB prontos para serem entregues em 1944.

Um dia, em 19 de agosto, enquanto recebeiam seus apetrechos e mais de 220 veículos de todos os tipos, quem deu uma passadinha para dar um alô a brasileirada foi ninguém menos que Sir Winston Churchill, primeiro ministro do Reino Unido e um dos principais líderes Aliados. A ilustre figura estava inspecionando as tropas do 5º Exército dos Estados Unidos (US Army), sob o comando do tenente-general Mark Clark. O contingente da FEB fazia parte do 5º Exército e o general Mascarenhas de Morais respondia a Clark, um militar tido como controverso, planejador débil, líder fraco, além de ser considerado um “caçador de publicidade” e com extrema aversão aos seus aliados ingleses.

Mas o fato que pesou mais negativamente na biografia de Mark Clark durante a Segunda Guerra ocorreu em junho de 1944, durante a chamada Operação Diadem (Diadema).

O mais alto na foto é Mark Clark e o mais baixo Mascarenhas de Moraes.

Comandada pelo general inglês Sir Harold Alexander, líder do 8º Exército Britânico, essa operação consistia em um cerco aos alemães, com o objetivo de fazer com que as forças inimigas ficassem amarradas na Itália e não pudessem ser redistribuídas para a França. O problema foi que para muitos Clark não comandou corretamente o seu 5º Exército, o que permitiu que o 10º Exército Alemão escapasse do cerco. Para piorar a situação pesa sobre Mark Clark a acusação de que ele priorizou tomar Roma (o que realizou com relativa facilidade) em uma tentativa de ganhar a glória marcial imortal. Consta que ele desejava ser o primeiro general a “tomar Roma pelo sul em 1.500 anos”. Se assim foi, Clark recebeu apenas um dia de publicidade por dominar a “Cidade Eterna”, pois após a sua conquista ocorreu o grande desembarque Aliado na França, o famoso “Dia D”, e sua glória foi totalmente ofuscada.[15]

Para os soldados da FEB essas tricas e futricas de altos comandantes pouco importava. Importava mesmo era quando entrariam em combate e, principalmente, fazer tudo para voltarem vivos para o Brasil.

Encarando a Linha Gótica

Na noite de 15 para 16 de setembro o contingente do 6º Regimento de Infantaria, comandado pelo coronel João de Segadas Viana substituiu na frente de combate o 434th Antiaircraft Artillery Automatic Weapons Battalion (434th AAA-AW Bn), ou 434º Batalhão de Armas Automáticas de Artilharia Antiaérea, que foi convertido em batalhão de infantaria. Ficou sob a responsabilidade dos brasileiros uma frente de combate de uns 4.500 a 4.800 metros.

Símbolo da 232a Infantariedivision der Wehrmacht, ou 232º Divisão de Infantaria do exército nazista.

Os pessoal da FEB naquele setor eram inferiores a 900 homens e seus comandantes sabiam que a sua frente estavam elementos da 232a Infantariedivision der Wehrmacht, ou a 232º Divisão de Infantaria do exército nazista. Unidade comandada pelo generalleutnant (tenente-general) Eccard Freiherr von Gablenz, um veterano das campanhas da Polônia, França e da invasão da União Soviética, onde combateu nesta última área de 1941 a 43 e ele escapou por pouco do cerco realizado pelos soviéticos na Batalha de Stalingrado. Von Gablenz estava comandando a 232 na Itália desde o primeiro semestre de 1944 e junto a essa divisão estavam unidades militares formada por italianos favoráveis aos alemães.

O círculo negro mostra a área de atuação da FEB nos primeiros meses de combate na Itália.

A partir desse ponto o avanço brasileiro colidiu com um setor da chamada Linha Gótica, a última linha de defesa inimiga na Itália.[16]

Em agosto de 1944 as forças alemãs estavam há mais de dois anos travando uma guerra defensiva e se retirando para o norte da Itália. Foi quando decidiram criar a linha defensiva chamada Gótica, que atravessava o país de um lado ao outro, desde o mar da Ligúria até o mar Adriático, aproveitando o terreno montanhoso e assim deter seus inimigos. Os alemães esperavam que a defesa da cordilheira dos Apeninos negasse aos Aliados a vantagem tática que significaria a conquista do Vale do Pó, pois ali ficavam as cidades de Bolonha, Modena e Milão, além das ricas terras agrícolas que forneciam grande parte dos alimentos. Para reforçar a Linha Gótica os alemães construíram muitos baluartes de defesa.

Foto ilustrativa que mostra o terreno de luta da FEB, nesse caso na região de Montese.

Os brasileiros do 6º Regimento de Infantaria atuavam intensamente a linha de frente, onde seus homens foram gradativamente ganhando experiência. Sofriam e infligiam baixas, mas a FEB ganhava terreno. Em 16 de setembro os brasileiros conquistaram as localidades de Massarosa e no dia seguinte Camaiori.

No início de outubro, com o frio aumentando pela iminente chegada do inverno, o 6º de Infantaria foi deslocado para o vale do rio Serchio, ao norte da cidade de Lucca. Nessa área as operações começaram no dia 6 e aos soldados da FEB foi ordenado lutar e ocupar pequenas comunidades e elevações, que eram chamadas “Cotas” e recebiam um número. O 6º Regimento de Infantaria atacou um setor defendido pelos italianos da 4ª Divisione Alpina Monterosa, formada pelos batalhões Bergamo, Aosta e Bréscia e comandadas pelo general Mario Caloni, que seis meses depois se renderia aos brasileiros da FEB.[17]

Símbolo da Divisão Monterosa.

Os combatentes sul-americanos avançaram para o norte por treze quilômetros, onde atravessaram o riacho Lima em Bagni di Lucca, cerca de vinte quilômetros ao norte da cidade de Lucca. Já os italianos, mostrando pouca ânsia de se levantar e lutar, recuaram lentamente para a solidez das altas montanhas que conheciam tão bem. No dia 11 de outubro a FEB capturou as cidades de Barga e Gallicano.

Ao completar um mês da entrada do 6º Regimento na área de combate, a imprensa nacional divulgou que os soldados brasileiros haviam avançado 28 quilômetros para o norte, conquistando do inimigo uma área de 273 Km², onde viviam mais de 100.000 pessoas, em sete cidades e vinte e três vilas. Não sabemos o grau de envolvimento do sargento Rodoval nessa fase da luta, mas o seu regimento participou ativamente desses combates, como ponta de lança da FEB.[18]

A aldeia medieval de San Quirico, município de Pescia, província de Pistoia, região da Toscana. Itália.

Daí então, entre os dias 12 e 30 de outubro, os brasileiros conquistaram várias outras vilas e pequenas aglomerações urbanas italianas, entre elas um lugar chamado San Quirico, que caiu no dia 30 de outubro de 1944, no começo da tarde. O lugarejo era defendido pelos italianos do batalhão Aosta, da divisão Monterosa, mas não ofereceram muita resistência.[19]  

O Massacre na Aldeia Medieval

O sargento Rodoval Cabral da Trindade estava entre os brasileiros que ocuparam San Quirico. O correspondente de guerra Sílvio Fonseca, enviado da Agência Nacional junto a FEB, comentou que em 31 de outubro de 1944 os militares do 6º Regimento de Infantaria conquistaram “La Rochette, Lama di Soto e Pradoscello”, entre outras localidades que se localizavam nas proximidades do rio Serchio. Informou também que outros soldados “mais a oeste, apoderaram-se de San Quirico”. Era a tropa que o potiguar Rodoval fazia parte.[20]

Soldados brasileiros encarando o frio italiano com a ajuda de um aquecedor à lenha.

Ao chegar em San Quirico estava frio e chovia, com a temperatura caindo para uns 10 ou 12 graus com a chegada da noite. A tropa brasileira estava cansada após vários dias de lutas e avanços pelas elevações daquela região da Toscana. É provável que a antiga igreja e o fato da maioria das casas estarem queimadas, tenha chamado a atenção de Rodoval e seus colegas. Mas o que importava naquele momento era consolidar a conquista do lugar, comer algo, descansar e seguir adiante.

Acredito que eles então se dirigiram para uma das poucas casas que não estavam queimadas e se acomodaram. Também é provável que sobre aquela pequena comunidade e seu montanhoso entorno, o potiguar só soubesse informações militares. Enfim, a vila e a região eram muito parecidas com outras tantas vilas e montanhas que ele vinha combatendo e ocupando no último mês junto com seus companheiros. Mas talvez Rodoval se espantasse ao saber o quanto aquele lugarejo era antigo.

A igreja de San Quirico, com seus mais de 10 séculos de construida.

Quando a primeira notícia oficial e conhecida sobre San Quirico foi publicada, um pequeno texto sobre os bens da “Ecclesia S.Quirici de Arriano“, somente 520 anos depois o navegador luso Pedro Álvares Cabral colocaria seus pés nas belas praias de Porto Seguro.[21]

Atualmente San Quirico pertence ao município de Pescia, na província de Pistoia, região da Toscana. Está fincada no alto de um monte com quase 550 metros de altitude e foi um lugar que presenciou guerras, passagem de exércitos em luta, pestes, terremotos, secas, enchentes e muito mais. É um lugar conhecido por ali ter vivido famílias que se especializaram na fabricação de sinos, sendo respeitados em toda a península italiana. Sua arte remonta à Idade Média, onde em algumas casas do lugarejo ainda é possível ver lagartos esculpidos em pedra, símbolo desta arte na Itália. É um testemunho da presença de tais mestres, sendo os mais conhecidos pertencentes às famílias Angeli, Fontana e Magni.[22]

Rua em San Quirico.

Durante a Segunda Guerra Mundial, dois meses antes da FEB chegar a essa vila medieval e do potiguar Rodoval ter combatido nas suas ruas, San Quirico viveu uma tragédia, quando foi palco de um dos muitos massacres perpetrados pelos alemães contra os civis italianos.

A coisa toda começou assim – Na noite de 7 de agosto de 1944, dois oficiais alemães foram convidados para jantar em uma casa da aldeia e tudo parecia estar indo bem. Por volta das 11 da noite, quando retornavam ao seu acampamento, eles foram mortos. Para alguns foi obra de guerrilheiros italianos que lutavam contra a ocupação alemã, os chamados “Partigiani”, mas outras fontes apontam que os atiradores seriam seis soldados alemães desertores e um deles, chamado Franz, foi quem matou os oficiais. Independentemente disso, a resposta alemã não se fez esperar! 

Outra vista da vila.

Naquela época os nazistas deixaram claro que para cada alemão morto, dez italianos pagariam com a vida. Na manhã do dia 19, muitos soldados da 65º Divisão de Infantaria da Wehrmacht chegaram a San Quirico e cercaram a aldeia[23]. Aos gritos, empurrões e muita violência mandaram todos sair das casas somente com a roupa do corpo e começaram a saquear e queimar praticamente todo o pequeno burgo, deixando de incinerar umas poucas casas e a igreja milenar. Roubaram gado, objetos de valor, os melhores móveis, roupas de cama e provisões. As antigas casas da vila de ruas apertadas arderam fortemente. Às quatro da tarde os nazistas separaram da população detida um grupo de velhos, doentes e mulheres, que imaginaram o pior para eles, pois todos foram obrigados a abrir uma grande cova coletiva no cemitério local.

San Quirico e as montanhas do seu entorno.

Mas o comandante alemão informou ao pároco Dom Vicenzo del Chiaro que seriam fuzilados vinte homens detidos pela manhã, na estrada que ligava a localidade de Pietrabuona até a cidade de Pescia. Eram pessoas de várias vilas da Toscana que, depois de serem obrigadas a trabalhar para os alemães no reforço de fortificações da Linha Gótica, foram libertadas e voltavam para suas casas, quando foram novamente detidas. Esse grupo foi conduzido para perto do cemitério de San Quirico em um caminhão. No local da execução um dos presos tentou escapar, mas foi perseguido e morto. Os dezenove restantes foram divididos em três grupos e sumariamente fuzilados. Hoje um desses infelizes ainda repousa neste campo santo e, para se ter uma ideia do nível de destruição em San Quirico, provocado pelos nazistas naquele 19 de agosto de 1944, ainda na década de 1970 cerca de 50% das casas do lugar estavam destruídas e enegrecidas.[24]

Monumento existente em San Quirico para homenagear os vinte fuzilados de 19 de agosto de 1944.

Enquanto os cansados oficiais e praças brasileiros do 16º Regimento de Infantaria encontraram abrigo do frio da noite nas casas de San Quirico, na madrugada os alemães e italianos contra-atacaram os brasileiros sem dó e nem piedade!

O Duro Combate de San Quirico

Em 2012, quando se comemorou os 70 anos da entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, o jornalista Marcelo Godoy participou de uma série de reportagens do jornal paulista Estadão sobre a participação brasileira nesse conflito. Ele escreveu um interessante material sobre o combate de San Quirico – “Os brasileiros dormiam, quando começaram a ouvir vozes na madrugada fria. Eram do inimigo. De repente, um tiro de carabina. A bala tombou um alemão que descia a colina em direção à ravina atrás da casa dos brasileiros. Atratino Côrtes Coutinho, comandante da 1.ª Companhia de Petrechos Pesados (CPPI), foi o autor do disparo que instalou o inferno na paisagem. A resposta veio das metralhadoras alemãs. Tiros encurralaram o capitão e sua tropa. Havia uma única saída: fugir pela janela dos fundos. Todos passaram. Chegou a vez do tenente José Maria Pinto Duarte. Ao pular, balas lhe alcançaram o corpo. Uma rajada apanhou o tenente no ar. Os tiros do inimigo não permitiram que o corpo do oficial fosse resgatado e enterrado. “O Atratino tentava arrastar, mas ele (Duarte) era muito alto, pesado, era difícil… Lembro quando (Duarte) falou: “Cuidem bem da minha filha’, como uma súplica”, diz João Gonzales, de 92 anos (em 2012), na época da guerra um terceiro sargento. Atratino não se conformava. Montou duas patrulhas para encontrar o corpo. Sem sucesso. Cansado, escreveu: “O moral da tropa foi abalado pelos insucessos causados pelo contra-ataque inimigo”. A ideia de que era preciso enterrar Duarte atormentaria o capitão até o fim da guerra”.[25]

Soldados da FEB em posição de combate.

Outro oficial da FEB presente ao confronto de San Quirico foi o então capitão Moziul Moreira Lima, que deixou o seguinte registro – “O Destacamento da FEB conquistou Barga e tentou conquistar as alturas dos Montes Quíricos (SIC) e infelizmente essa tentativa terminou em revés sério e serviu-nos como um grande ensinamento. Casualmente eu estava lá, junto do comandante do 1º Batalhão do 6º RI (Regimento de Infantaria), Major João Carlos Gross, meu grande amigo. A ordem fora conquistar aquelas alturas. Era uma conquista difícil, um terreno escarpado e o Comandante do Batalhão foi comigo ao Quartel-General pedir que ficasse à disposição da Unidade, uma Companhia de muares, porque ele achava difícil levar munição e alimento quando estivéssemos lá na crista do monte.

Poder de fogo de um militar da FEB com uma submetralahdora M3  “Grease Gun” e fitas de munição. Foi apontado para o autor desse texto que o militar da foto seria o sargento Rodoval Cabral da Trindade, mas sem confirmação.

Foi prometida essa Companhia de muares, mas a mesma não nos foi fornecida e com muito sacrifício o Batalhão conquistou aquela posição. Pela experiência que tínhamos das nossas guerras, quando escurecia as operações paravam e, conquistada a posição, o pessoal se preparava apenas para passar a noite. Pois nessa noite o alemão desencadeou um contra-ataque com uma Unidade de Choque, especializada em ataques noturnos. Essa Unidade veio em cima do flanco esquerdo do nosso dispositivo e fomos tomados de surpresa, inesperadamente e sem a munição necessária. Foi uma surpresa total, o Batalhão começou a recuar pelo flanco esquerdo e foi nessa ocasião que morreu o tenente Pinto Duarte. Dois oficiais se atiraram por uma janela para não caírem prisioneiros, ele e o capitão Atratino, que era o Comandante da Companhia. O tenente foi ferido numa perna e na barriga e não conseguia se locomover, o Atratino procurou carregá-lo, mas não conseguiu e o corpo teve que ficar insepulto naquele local. Com esse revés ficou evidente que deveríamos nos reajustar muito rapidamente ao modo de combater de elementos que já tinham no mínimo cinco anos de experiência de guerra, enquanto estávamos começando a adquirir a nossa naqueles combates” [26].

Tropa do 2º Pelotão, da 8º Companhia, do 6º Regimento de Infantaria da FEB. É provável que alguns dos fotografados estiveram no combate de San Quirico – Foto devidamente cedida pelo Museu da Imagem e do Som da Associação Nacional da FEB.

O então capitão Hélio Portocarrero de Castro foi outro oficial da FEB que lutou em San Quirico naquela madrugada e deixou o seguinte registro – “Cheguei no 2º Escalão e, logo em seguida, fui designado para assumir o Comando da 7ª Companhia, 3º Batalhão do referido 6º Regimento de Infantaria. Não tive nenhuma adaptação. Segui direto, assumi o comando num ataque ao Morro de San Quirico. Foi um batismo de fogo sui-generis. Ataquei e fui contra-atacado violentamente pelos alemães. Eles avançavam gritando Heil Hitler! Portavam suas “lurdinhas” (apelido), excelentes metralhadoras de mão, com uma violenta cadência de tiro. Suas rajadas se assemelhavam a uma gargalhada. Algum soldado brasileiro colocou esse apelido nessa arma e pegou. Toda a FEB a designava pelo nome de “lurdinha”. [27]

Soldados da FEB.

O soldado José Otaviano Soares, que morava na rua Dr. Betim, 315, Vila Marieta, em Campinas, São Paulo, tempos depois comentou ao correspondente de guerra americano Henry Bagley, da Associated Press, que naquela madrugada estava com outros dezesseis companheiros da 8º Companhia, do 16º Regimento de Infantaria, quando “capturaram uma casa na aldeia de San Quirico, ao norte de Barga, no vale do rio Serchio, mas os alemães contra-atacaram pela madrugada de 31 de outubro. O inimigo concentrou um fogo de morteiro e metralhadoras contra a casa, matando um e ferindo oito, inclusive José Soares, que foi ferido por estilhaço de morteiro desde o pé ao ombro esquerdo, bem como dois fragmentos maiores na perna direita”. José Soares foi capturado bastante ferido, mas se recuperou em um campo de prisioneiros na Itália, de onde foi libertado ao final do conflito. Ao retornar ao encontro da sua tropa, concedeu essa entrevista a Henry Bagley[28].

Foto ilustrativa de soldados da FEB em uma cidade italiana e sobre um veículo de combate.

O que sabemos da participação do sargento Rodoval são informações muito limitadas, mas é certo que durante o tiroteio o seu pelotão recuou de sua posição original, talvez a mesma casa onde estava o capitão Atratino, ou alguma outra que foi “requisitada” para descanso. É provável que Rodoval tenha continuado na casa para cobrir a retirada dos seus companheiros. A vivenda foi então cercada pelos alemães. Tudo indica que o potiguar, mesmo com sua munição escasseando, ficou na casa até o último disparo. Os registros existentes não explicam como, mas Rodoval manteve a calma e de alguma forma conseguiu romper o cerco para retornar as linhas brasileiras. Sabemos que na madrugada de 31 de outubro de 1944 predominava a lua cheia no norte da Itália, o que possibilitou aos participantes daquele combate vantagens e desvantagens. Talvez o sargento potiguar tenha utilizado o luar para sair vivo daquela complicada situação. Ao sobreviver a esse combate Rodoval foi agraciado com a medalha da Cruz de Combate de 2ª Classe, destinada a participantes de feitos excepcionais praticados em conjunto por vários militares.[29]

Para Sílvio Fonseca a localidade de San Quirico era “uma importante posição dominante que os alemães tentaram inutilmente conservar em seu poder”. Tanto era importante que os nazistas e fascistas executaram o contra-ataque. O jornalista informou que os brasileiros resistiram a três investidas dos inimigos, mas na quarta recuaram.[30]

O complicado terreno de luta da FEB na Itália.

Segundo a falecida historiadora paranaense Carmen Lúcia Rigoni, na página 122 de sua interessante tese de mestrado intitulada La forza di spedizione brasiliana” (FEB) – Memória e história: Marcos na monumentalistica italiana, defendida 2003 na Universidade Federal do Paraná, informou que no momento da ocupação de San Quirico pelos membros da FEB o ambiente entre eles era de “otimismo”. Contudo a autora aponta, através de relatos de participantes, que “ninguém no comando se apercebia de que os combatentes estavam no limite e o cansaço era extremo”. A autora também conseguiu a informação que o “otimismo exacerbado e a subestimação do inimigo” estavam na ordem do dia dos brasileiros. E continua Carmen Lúcia Rigoni – “Segundo as narrativas de diversos veteranos, a frente de combate era muito extensa e o terreno criava todo o tipo de dificuldades, em razão da topografia ser acidentada, e era de difícil acesso. O transporte de víveres e munição para a tropa, debaixo de chuva, comprometia as reservas, entre outras questões afeitas ao comando” (Pág. 122).

Soldados da FEB.

Em outra parte do seu trabalho Carmen Lúcia Rigoni comentou o final da luta – “Diante das intempéries climáticas daquela jornada e da falta de munição e mais a desorganização do comando, a FEB se retira, deixando sobre o terreno mortos, feridos e muitos prisioneiros. As brigadas italianas sofreram também pesadas baixas. Os mortos e prisioneiros do efetivo de 200 homens da Companhia Aosta somaram-se mais de 80 homens” (pág. 126).  

Como um jornal dos Estados Unidos comentou as vitórias da FEB em outubro de 1944.

A Morte em Voghera

A partir desse momento da história da FEB na Itália não consegui encontrar mais nenhuma referência sobre o sargento Rodoval Cabral da Trindade.

Soldados da FEB em uma aparente comemoração, com instrumentos musicais em um caminhão de transporte. Talvez algo alusivo ao final da guerra.

Finalmente a Guerra na Europa se encerra em 8 de maio de 1945 e a Força Expedicionária Brasileira se preparava para retornar ao Brasil. É quando o sargento Rodoval morre em um acidente de jeep em Voghera, uma cidade ao norte de Gênova, no dia 6 de junho de 1945. Das causas e razões do acidente automobilístico não consegui nenhuma informação. 

Apenas descobri que Rodoval não foi o primeiro membro da FEB a morrer nessa estrada. No dia 8 de maio de 1945, no Dia da Vitória, e praticamente um mês antes da morte de Rodoval, o segundo sargento Fábio Pavani, de Capivari, São Paulo, faleceu ao cair da viatura em que estava se deslocando na mesma estrada de Voghera. Segundo a listagem de mortos da FEB, encontrada no texto intitulado Lista detalhada e ilustrada dos mortos da Força Expedicionária Brasileira na Campanha da Itália, constam os nomes de 34 militares que morreram em acidentes de veículos [31].

Para o pesquisador Durval Lourenço Pereira, essa situação ocorreu por várias razões. Desde a imperícia pura e simples dos motoristas da FEB, a complicada situação das estradas italianas, nevoeiro, fadiga, lama, neve, stress por dirigir em zona de guerra e outras mais.

Notícia da morte do sargento Rodoval em jornal de Natal.

Em Natal a notícia foi divulgada com bom espaço nos três principais jornais da cidade – A República, A Ordem e O Diário.  A única rádio da cidade, a REN – Rádio Educadora de Natal, noticiou extensivamente o falecimento do sargento Rodoval. Vários membros da comunidade foram pessoalmente até a casa da família externar os pêsames pelo ocorrido. Já o tenente coronel Edgar Alves Maia e o Dr. Jacob Wolfson, oftalmologista de renome e um dos líderes da comunidade judaica natalense, foram até a casa da família Cabral da Trindade levar o apoio da Comissão de Homenagem, Assistência e Recepção à FEB.[32]

Cemitério de Pistoia e o enterro de um combatente da FEB.

O corpo do sargento Rodoval Cabral da Trindade foi primeiramente sepultado no Cemitério Militar Brasileiro de Pistoia, na quadra D, fileira nº 1, sepultura nº 5. Depois seus restos foram transladado para o Rio de Janeiro, onde repousam no Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, no Aterro do Flamengo. No Rio Grande do Norte ele é lembrado com seu nome em uma rua em Ceará-Mirim e outra em Natal. Na capital essa artéria fica na Cidade Alta, vizinho a Igreja do Galo e perto de onde ele viveu.

Pessoalmente a história do sargento Rodoval me traz maravilhosas lembranças do meu tio-avô Luís de França Moraes, o nosso poeta e um devotado funcionário dos Correios e Telégrafos. 

Ainda garoto, foi dele que ouvi pela primeira vez os fatos ligados ao sargento Rodoval, até porque tio Luís moravam na Rua Laranjeira, número 18, a poucos metros da casa de Seu João Cândido da Trindade. Ele conheceu Rodoval, foi um dos que foram à casa de seu pai dar os pêsames pelo seu falecimento na Itália, esteve no enterro de Seu João em 1957 e chegou a trabalhar nos Correios e Telégrafos com José Augusto, Clotilde e Margarida, todos irmãos de Rodoval. Eu era muito jovem quando ouvi seu relato, mas jamais esqueci quando ele me narrou do orgulho que ele e todo o pessoal da Rua Laranjeira ficou ao saber que Rodoval tinha ido para a Guerra e da enorme tristeza que se abateu com a notícia da sua morte.

NOTAS

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[1] Ver O Poti, Natal-RN, ed. 06/07/1957, sábado, pág. 3.

[2] Ver A Ordem, Natal-RN, ed. 14/03/1940, quinta-feira, pág. 2. Não encontramos nenhuma outra indicação de fonte de renda desse funcionário público para sustentar sua família.

[3] Ver Galvão, Claudio. O nosso maestro: biografia de Waldemar de Almeida – Natal, EDUFRN, 2019, pág. 97.

[4] O antigo Tiro de Guerra 18 não existe mais, contudo esse tipo de organização é bastante presente em outros estados brasileiros e no Rio Grande do Norte ainda existe um em Mossoró, com mais de 120 anos de atuação.

[5] Ver O Poti, Natal-RN, ed. 09/08/1981, domingo, pág. 14.

[6] A Escola Técnica de Comércio foi fundada em 1919 pelo professor Ulysses de Góis. Em dezembro de 1950 essa escola se mudou da Rua João Pessoa para a Avenida Junqueira Aires, 390, na Ribeira e serviu de embrião para a criação da Faculdade de Ciências Contábeis e Atuariais de Natal em 1957.

[7] Ver A Ordem, Natal-RN, ed. 17/07/1945, quarta-feira, pág. 4.

[8] Ver Diário de Notícias, Rio de Janeiro, ed. 26/07/1941, sábado, pág. 10.

[9] Ver Diário de Notícias, Rio de Janeiro, ed. 17/01/1943, domingo, pág. 14. A ordem veio através do Boletim Interno nº 13, de 16/01/1943.

[10] Ver Diário de Notícias, Rio de Janeiro, ed. 16/03/1943, terça-feira, pág. 6. A ordem veio através do Boletim Interno nº 62, de 15/03/1943.

[11] Ver Diário de Notícias, Rio de Janeiro, ed. 14/08/1943, sábado, pág. 8.

[12] Enciclopédia da II Guerra Mundial, Editora Globo, Livro VI, páginas 285 e 286, 2ª edição, 1956.

[13] Informações transmitidas oralmente por José Renato Coelho ao autor. Renato é filho do soldado Coelho, já falecido.

[14] Diário de bordo do USS General A. W. Mann, 2 de julho de 1944, pág. 2.

[15] Sobre essa questão ver https://www.vqronline.org/essay/question-leadership-5th-army-italy (em inglês).

[16] Mais detalhes sobre a 232º Divisão, ver https://www.axishistory.com/

 [17] A divisão Monterosa nasceu em 1 de janeiro de 1944 em Pavia, mas foi mobilizada apenas em 15 de fevereiro do mesmo ano. Em 16 de julho Benito Mussolini entregou a bandeira aos regimentos em Münsingen, Alemanha, no final do período de treinamento realizado com padrões germânicos. Era composta por cerca de 20.000 homens, dos quais 20% provenientes do Exército Real Italiano, que se rendeu aos Aliados em 1943. Foi criado pelos líderes fascistas da chamada República Social para combater nas montanhas ao lado do exército alemão e suas armas vieram dos armazéns da Wehrmacht. A divisão voltou à Itália em julho de 1944 e ficou na área da Ligúria, para neutralizar um possível desembarque das forças aliadas. Posteriormente foi transferido para a Garfagnana entre o rio Serchio e os Alpes Apuanos, combatendo as unidades brasileiras da FEB e outras forças do 5º Exército.

[18] Ver A Noite, Rio de Janeiro, ed. 27/04/1946, sábado, pág. 8.

[19] Segundo o ótimo material produzido pelo escritor e pesquisador Durval Lourenço Pereira, que apresenta um interessante e didático roteiro do avanço da FEB, os locais e as datas das conquistas da foram as seguintes – 11/10/1944 – Ocupação de Barga e Gallicano; 24.10.1944 – Ocupação de Sommocolonia; 25.10.1944 – Ocupação de Trassilico e Verni; 28.10.1944 – Captura de Monte Facto; 29.10.1944 – Ocupação de Colomini; 30.10.1944 – Conquista de San Quirico, Lama di Sotto, Lama di Sopra, Pradoscello e Pian de Los Rios. Ver https://memorialdafeb.com/2012/05/15/roteiro-da-feb-na-italia-o-destacamento-feb2/

[20] Ver Diário de Notícias, Rio de Janeiro, ed. 02/11/1944, quinta-feira, pág. 1

[21] No entorno de San Quirico já foram encontrados marcos do Império Romano e até ferramentas do neolítico, que apontam uma antiguidade muito mais ampla.

[22] Sobre San Quirico e sua história ver https://digilander.libero.it/sanquiricovalleriana/lastoria.htm  https://www.ilturista.info/guide.php?cat1=4&cat2=8&cat3=5&cat4=142&lan=ita

[23] Na área de operações da 65ª Divisão foram identificados 26 atos separados de violência onde civis italianos foram sumariamente mortos. Em junho de 1944 aconteceram cinco massacres (18 vítimas), três em julho (22 vítimas), nove em agosto (42 vítimas, entre estas as de San Quirico), oito em setembro (125 vítimas, o pior mês) e um em outubro de 1944 (2 vítimas). Entre 28 e 30 de setembro, em Ronchidoso, na região da Emilia-Romagna, foram executados 66 civis pelos homens da 65º Divisão, que nesse caso atuaram juntos com membros da 42ª Divisão Jäger. Várias dessas execuções foram represálias precipitadas pela morte de soldados alemães por guerrilheiros do movimento de resistência italiano, que surgiu no norte da Itália para se opor ao estado fantoche fascista. Mas os revisores dessas histórias, muitos deles neonazistas disfarçados de pesquisadores, comentam que muitos dos relatórios carecem de evidências dos perpetradores específicos. Minimizam que esses relatórios apenas apontam que os assassinatos ocorreram na área de operações da 65ª Divisão. Pode até ser que esses argumentos sejam verdadeiros, mas fica difícil justificar que ao longo de cinco meses, na área de atuação dessa divisão, ocorreram 26 massacres de gente detida e desarmada, com um total de 205 vítimas. Ver – https://en.wikipedia.org/wiki/65th_Infantry_Division_(Wehrmacht)#Partisan_warfare_and_alleged_war_crimes

[24] A memória da tragédia continua presente naquela gente até hoje, onde todos os dias 19 de agosto existe uma comemoração em Pescia rememorando o que ocorreu em San Quirino e em outras comunidades da região. Ainda sobre o massacre de San Quirico ver o documento existe neste sítio da internet – http://www.straginazifasciste.it/wp-content/uploads/schede/SAN%20QUIRICO%20IN%20VALLERIANA%20PESCIA%2019.08.1944.pdf

[25] Ver https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,na-linha-de-frente-a-historia-da-primeira-tropa-a-lutar-na-italia,921569

[26] História oral do Exército na Segunda Guerra Mundial / Coordenação geral de Aricildes de Moraes Motta. – Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 2001. T. 3. Págs. 56 e 57. O capitão Moziul Moreira Lima era gaúcho de Cruz Alta e alcançaria o posto de general de brigada do Exército Brasileiro.

[27] História oral do Exército na Segunda Guerra Mundial / Coordenação geral de Aricildes de Moraes Motta. – Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 2001. T. 4. Págs. 70 e 71. O capitão Hélio Portocarrero de Castro era natural da cidade do Rio de Janeiro e alcançaria o posto de divisão do Exército Brasileiro.

[28] Ver O Jornal, Rio de Janeiro, ed. 30/05/1945, quarta-feira, pág. 8.

[29] Sobre a atribuição dessa medalha e sobre os 68 sargentos do Exército Brasileiro mortos na Itália durante a Segunda Guerra Mundial, ver o interessante trabalho Os 68 sargentos mortos em operações de guerra, do coronel Cláudio Moreira Bento, em http://www.ahimtb.org.br

[30] Ver Diário de Notícias, Rio de Janeiro, ed. 02/11/1944, quinta-feira, pág. 1

[31] Ver https://xdocs.com.br/doc/lista-detalhada-e-ilustrada-dos-mortos-da-fora-expedicionaria-brasileira-na-campanha-da-italia-4ol2mkp55ynm Infelizmente não descobri o autor desse trabalho.

[32] Ver A Ordem, Natal-RN, ed. 04/08/1945, sábado, pág. 2.

IL BRASILE IN GUERRA

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Fino al 1939 indeciso tra Washington e Berlino, il regime brasiliano si schierò ufficialmente a fianco degli Alleati con la dichiarazione di guerra a Germania e Italia dell’agosto 1942. Le ragioni che indussero a premere per il successivo invio di un corpo di spedizione in Italia furono di ordine internazionale e interno: rafforzare la propria posizione in Sudamerica e avviare uno sviluppo democratico del paese. Sbarcato in Italia nel luglio 1944, il contingente brasiliano ebbe il suo battesimo del fuoco nell’autunno successivo, in Garfagnana. E il 25 aprile 1945 i suoi uomini sfilarono con i partigiani per le vie di Milano

Rivoluzione del 1930 in Brasile
Rivoluzione del 1930 in Brasile

Nel 1930 il Brasile nel 1930 visse una Rivoluzione che portò al potere, con l’appoggio dei militari, il presidente Getulio Vargas. Il governo del “padre dei poveri”, come spesso era definito Vargas, non fu subito ben accetto ma in breve riuscì, con varie riforme economiche, a creare nel paese una certa atmosfera di benessere. Il presidente realizzò un’ideologia di Stato, il nazionalismo populista, che ebbe grande ripercussione nella vita politica del Brasile.

Nel 1937, ricorrendo al pretesto di una falsa cospirazione comunista, Vargas compì l’atto finale del suo disegno dittatoriale e decretò, sempre con l’aiuto dei militari, l’abolizione della Costituzione del 1934 e decise che ne venisse preparata un’altra, ispirata a quella della Polonia, che all’epoca era retta da un regime autoritario.

Quando la Germania aggredì la Polonia, scatenando la reazione di Francia e Inghilterra, il Brasile dichiarò, il 6 settembre 1939, la propria neutralità proseguendo l’ambigua linea politica dettata dal presidente Vargas. In politica internazionale, già da alcuni anni, il Brasile si era avvicinato agli Stati Uniti d’America vivendo così gli stessi timori per i segnali premonitori della futura guerra mondiale.

Fu così che, il 27 novembre 1936, il presidente statunitense Roosevelt fu invitato ad un banchetto nel Palazzo Itamaraty (residenza presidenziale brasiliana a Rio de Janeiro), e in tale cerimonia il presidente brasiliano pronunciò un discorso definendo gli Stati Uniti la «grande nazione americana tradizionalmente amica del Brasile». L’incontro tra i due presidenti precedette di pochi giorni la prima Conferenza Interamericana di Buenos Aires, fortemente voluta dagli Stati Uniti in proseguimento della politica dettata dal presidente Monroe nel 1823 (lo slogan che caratterizzò tale dottrina politica fu: “L’America agli americani”). Nella capitale argentina i delegati brasiliani prepararono, appoggiati dai rappresentanti statunitensi, un progetto di patto interamericano che cercava «…di difendere il Continente contro la tendenza espansionistica degli altri popoli…» e i tentativi di «… intromissione di qualche potenza extra-continentale in un paese americano».

Getúlio Dornelles Vargas
Getúlio Dornelles Vargas

La proposta brasiliana, in caso di aggressione esterna, prevedeva il ricorso alle armi e all’arbitraggio di Washington; questa eventualità però non fu accettata dall’Argentina che propose alla Commissione un nuovo progetto, appoggiato però, in fase di votazione, solo da sei paesi contro gli otto firmatari della mozione brasiliana. Finalmente il 19 dicembre 1936 fu stipulato un atto finale che trovò, tuttavia, i paesi firmatari ancora divisi. Per capire l’atteggiamento ostile dell’Argentina bisogna ricordare che in Sudamerica, da alcuni anni, si era scatenata una lotta politica tra i due paesi più forti, appunto Brasile e Argentina, per ricoprire il ruolo di paese leader dell’America Latina.

Mentre in politica estera il Brasile giocava il ruolo di paese libertario, nelle vicende politiche interne il governo Vargas cercò di eliminare definitivamente gli unici oppositori all’Estado Novo: i comunisti. La situazione mondiale aveva visto l’affermarsi di Stati totalitari europei che elaborarono ed attuarono, dopo il 1936, una forte politica estera anticomunista (Patti Anticomintern). In questa ottica l’11 dicembre 1937 l’Ambasciatore tedesco a Rio de Janeiro,Karl Ritter, incontrò segretamente Francisco Campos, numero due del governo sudamericano. Durante la riunione, in realtà voluta dai brasiliani, si discusse la possibilità del Brasile di entrare nel Patto Anticomintern e l’opportunità di inviare in Germania alcuni ufficiali dell’Esercito brasiliano per seguire un corso di lotta anticomunista. I militari brasiliani sarebbero stati ospiti del Bureau Anticomintern di Berlino dove lo stesso Heinrich Himmler, capo della Gestapo, avrebbe insegnato loro le migliori tecniche di “controllo politico” del paese.

Gruppo Integralista Camicie Verdi
Gruppo Integralista Camicie Verdi

Nel 1937 gli Stati Uniti inaugurarono una politica di avvicinamento e controllo degli stati sudamericani. In Brasile, però, esistevano contrastanti spinte interne originate dalle numerose minoranze d’origine italiana e tedesca, in aperto conflitto con i gruppi democratici altrettanto forti. E fu proprio ad opera di gruppi integralisti il tentativo insurrezionale delle “Camicie Verdi”, avvenuto l’11 maggio 1938 a Rio de Janeiro. Le “Camicie Verdi”, versione brasiliana delle “Camicie Nere” italiane e delle “Camicie Brune” tedesche, avevano avuto fino allora una grande influenza, costituendo un movimento di destra che Vargas utilizzò per rafforzare il potere.

Il governo di Vargas, suo malgrado, fu spinto all’azione contro i membri tedeschi dei Circoli Nazisti, dalle maldestre scelte adottate proprio dall’Ambasciatore nazista a Rio de Janeiro. Infatti, il rappresentante tedesco non riuscì ad aprire un dialogo con i leaders brasiliani, ma cercò comunque di spingere il paese sudamericano nella sfera politica, militare ed economica di Berlino. Le relazioni tra Brasile e Germania si stavano rapidamente deteriorando e la crisi si aggravò, quando il Ministro degli Esteri brasiliano Oswaldo Aranha (esponente dei circoli democratici), ritirò, nell’ottobre 1938, la qualifica di “persona grata” a Karl Ritter, provocando la reazione tedesca. Infine, al termine del 1938, il governo di Vargas promulgò speciali leggi contro tutte le organizzazioni fasciste e nazionalsocialiste e ottenne dalle autorità italiane il ten. Fournier, uno dei capi della rivolta delle “Camicie Verdi”, che si era rifugiato nell’Ambasciata italiana di Rio de Janeiro. L’inettitudine dell’Ambasciatore tedesco giocò a favore degli Stati Uniti che continuarono così la loro politica di buon vicinato con il Brasile e gli altri Stati sudamericani. E quando il governo tedesco nel novembre 1938 inviò a Rio copia del Patto Anticomintern, Aranha (filo-statunitense) aveva già sostituito Campos (filo-tedesco) e la politica estera brasiliana era ormai indirizzata verso Washington.

Graf Spee
Corazzata Tascabile tedesca Admiral Graf Spee

Ma Vargas non aveva ancora definitivamente fatto una chiara scelta di campo. Tanto che nei primi mesi del 1939 furono ripresi e rafforzati accordi commerciali con Germania e Italia. E Washington dovette lavorare molto per raggiungere l’accordo del 3 ottobre 1939 quando fu approvata la “Dichiarazione di Panama”, che sanciva la volontà dei paesi firmatari di «…mantenere la pace nel continente americano e di favorire il suo ristabilimento in tutto il mondo». Inoltre, l’accordo affermava l’inviolabilità delle acque territoriali delle repubbliche americane, con un’estensione da trecento a mille miglia di distanza dalla costa. Ma, nonostante le assicurazioni dei paesi belligeranti, il 13 dicembre 1939, avvenne a largo della costa uruguayana lo scontro tra la corazzata tascabile tedesca Admiral Graf Spee e tre incrociatori britannici. La nave tedesca, inflitti e ricevuti danni, fu costretta a rifugiarsi nel porto di Montevideo creando una grave crisi diplomatica. Gli Stati Uniti, appoggiati dal Brasile e dall’Argentina, spinsero il governo uruguayano a ordinare la partenza della Graf Spee, che si autoaffondò nei pressi delle foci del Rio de La Plata.

Come già ricordato, allo scoppio della seconda guerra mondiale, il Brasile si collocò in una posizione di assoluta neutralità. Il 3 settembre 1939 il governo promulgò un decreto legge circa le Regole generali di neutralità, che vietava a navi o aerei dei paesi belligeranti di entrare nel paese e «…compiere atti ostili». L’accesso alle acque territoriali brasiliane era consentito solo in casi di emergenza e solo per 24 ore. Trascorso questo periodo le navi e gli equipaggi sarebbero satati internati fino alla fine del conflitto.

L’anno successivo, con la caduta della Francia e con la dimostrazione della crescente forza militare nazifascista, il presidente statunitense, Roosevelt, riuscì a far approvare da tutti gli Stati americani una nuova linea di principio, che si concretizzò in un altro vertice interamericano, svoltosi a La Avana nel luglio del 1940. In tale assemblea si affermò, dietro pressioni del governo di Washington, che qualunque atto di ostilità compiuto ai danni di uno Stato del nuovo continente sarebbe stato in avvenire considerato «…come un atto di aggressione contro gli Stati firmatari della dichiarazione». Tale clausola sarebbe dovuta scattare il 7 dicembre 1941, giorno in cui la flotta giapponese effettuò l’attacco a Pearl Harbor, ma in realtà non fu proprio così, tanto è vero che subito dopo l’aggressione giapponese agli USA, nessun paese firmatario della Dichiarazione scese in campo e, come vedremo, solo il Brasile espresse solidarietà a Washington con un atto ufficiale.

Góis Monteiro
Góis Monteiro – Fonte – FGV-CPDOC

Ritornando alle vicende del 1939 è opportuno ricordare che i rapporti tra il Brasile e gli Stati Uniti erano, in tale periodo, ancora vaghi ed incerti. Nella seconda metà di quell’anno avvenne, tra l’altro, uno scambio di lettere tra i Capi di Stato Maggiore brasiliano (generale Pedro Aurèlio de Gòis Monteiro) e statunitense (generale George C. Marshall). In tale circostanza l’ufficiale brasiliano rimproverava agli Stati Uniti, sia pure in termini accuratamente diplomatici, l’assoluta insufficienza nell’aiuto di forniture militari e ricattava velatamente Washington con l’incapacità brasiliana di difendere, in tali condizioni, il nordest del continente sudamericano, in altre parole la zona più vitale dal punto di vista militare. Il generale Marshall, rispondendo, insistette sul problema delle basi aeree USA nel nordest brasiliano, considerate una necessità strategica di primo piano e su quello delle materie prime brasiliane indispensabili allo sforzo bellico, rimanendo tuttavia nel vago circa le forniture. Nonostante questo i rapporti tra i due paesi migliorarono notevolmente in seguito, soprattutto dopo il messaggio dal presidente Roosevelt al presidente Vargas in data 10 luglio 1941, nel quale era chiaramente messa in evidenza la situazione mondiale con i pericoli connessi, e venivano elencate tutte le possibili ipotesi di difesa dell’emisfero occidentale e più in particolare quelle che concernevano direttamente il Brasile e ne coinvolgevano l’azione. Nell’attenta analisi si poneva in risalto il pericolo dell’espansionismo tedesco e della possibilità di conquista nazista dell’Islanda a nord e delle Isole Capo Verde a sud, e da cui poi con la «…tipica Blitzkrieg … attaccare l’emisfero occidentale».

Il punto di arrivo, in questa fase delle trattative, fu rappresentato dalla firma (24 luglio 1941) dell’accordo per la costituzione di una delegazione mista Brasile-Stati Uniti composta da ufficiali di Stato Maggiore. Il primo incontro di questo consesso si svolse a Rio dove l’incrociatore statunitense Nashville portò in terra brasiliana il colonnello James Chaney e il tenente colonnello Lehman Miller che visitarono il paese «… ricevendo impressioni del nostro progresso e della preparazione della nostra difesa».

Mercantili brasiliano Siqueira Campos
Mercantile brasiliano Siqueira Campos

Sul piano diplomatico, nella metà del 1940, si creò invece una rottura con l’Inghilterra che, nonostante acquistasse molti prodotti brasiliani, attuava uno stretto blocco navale che provocò vivaci proteste del governo sudamericano. L’11 ottobre il mercantile brasiliano Siqueira Campos fu bloccato a Lisbona dalle autorità britanniche perché stava per trasportare in Brasile un carico di armi proveniente dalle industrie Krupp di Essen. Il 27 novembre 1940 il mercantile brasiliano Buarque fu fermato da navi da guerra inglesi in acque territoriali brasiliane e fu confiscato il carico definito di origine sospetta. Solo dopo lunghi accertamenti si stabilì l’origine argentina dei prodotti che consistevano in 32 casse di cotone e 38 di profumo. Il 1° dicembre fu la volta della nave Itapè dalla quale i militari inglesi prelevarono 22 passeggeri di origine tedesca. Il governo brasiliano tenne un fermo atteggiamento di condanna che fu seguito dall’intensificarsi della propaganda favorevole all’Asse dopo le vittorie tedesche in Europa, e tutto ciò indusse molti ad interpretare come manifestazione di solidarietà con i paesi totalitari il discorso – in più di un punto riecheggiante luoghi comuni della retorica mussoliniana – tenuto da Vargas l’11 giugno.

Inoltre Vargas per convincere gli Stati Uniti ad accelerare le operazioni di versamento dei prestiti per lo sviluppo industriale del paese, nel maggio 1940 «… provvedeva ad informare Washington che la Krupp era disposta a costruire a Volta Redonda la prima industria siderurgica». Subito dopo gli Stati Uniti, temendo che il Brasile cadesse nell’orbita della Germania, offrirono 20 milioni di dollari nel settembre 1940, che salirono a 45 l’anno successivo al momento dell’installazione degli impianti a Volta Redonda. Sempre nel 1940 il governo di Rio espropriò compagnie ferroviarie belghe, francesi e inglesi e si preparò a riprendere il pagamento dei debiti esteri. Nonostante la firma del trattato per un prestito di 100 milioni di dollari, che avrebbe dovuto facilitare la vendita di armi degli Stati Uniti al Brasile con la clausola del “Lend-Lease” (1 ottobre), non ebbe fino a dicembre conseguenze tangibili e rimase in sostanza lettera morta in qualche cassetto a Rio de Janeiro.

1942 - Natal, in Brasile, il principale punto di interesse strategico degli Stati Uniti in America del Sud - Time Life
1942 – Natal, in Brasile, il principale punto di interesse strategico degli Stati Uniti in America del Sud – Time Life

In ogni modo, nonostante gli alti e bassi nei rapporti tra Washington e Rio de Janeiro, la prima reazione diplomatica brasiliana all’attacco giapponese alla base navale statunitense di Pearl Harbor fu di un certo valore. La mattina dell’8 dicembre, infatti, il presidente Vargas convocò una riunione improvvisa, al termine della quale il governo brasiliano decise di esprimere totale solidarietà agli Stati Uniti, immediatamente comunicata al presidente Roosevelt. In base agli accordi già stabiliti fu immediatamente concesso al governo di Washington il permesso di inviare al più presto nelle basi di Bèlem, Natal e Recife dei reparti di marines, che furono fatti passare, agli occhi dei non addetti ai lavori, per “personale tecnico”. Nello stesso periodo cominciarono ad arrivare in Brasile quantità, seppur non abbondanti, di armi statunitensi e fu ampliato l’accordo del 1° ottobre, fino a raggiungere sei mesi più tardi la cifra di circa 200 milioni di dollari. Tale accordo, firmato nel marzo 1942, oltre alla concessione delle basi navali del nordest, in dettaglio stabiliva che il Brasile ricevesse «… armamenti moderni per 200 milioni di dollari, la concessione della Itabira Iron Company, già inglese, e un prestito di 14 milioni di dollari dell’Eximbank per lo sfruttamento minerario. Nasceva così la Companhia Vale do Rio Doce, dalla quale USA e Gran Bretagna si impegnavano ad acquistare 750.000 tonnellate di ferro».

In sudamerica però alcuni paesi come Argentina e Cile mantennero saldi i loro buoni rapporti con i paesi dell’Asse e neppure la dichiarazione di guerra della Germania e dell’Italia agli Stati Uniti, avvenuta subito dopo i primi atti bellici del Giappone, valse ad indurre i firmatari delle dichiarazioni di solidarietà (espresse soprattutto all’Avana) ad entrare in azione unitariamente contro il Tripartito.

Oswaldo Aranha
Oswaldo Aranha

Solo il Brasile aveva fatto la sua scelta di campo tanto che il 28 gennaio 1942 Aranha annunciò a sorpresa che il Brasile aveva deciso di rompere le relazioni politiche con i paesi dell’Asse. La risposta di Hitler e Mussolini non si fece attendere e venne intensificata la guerra sottomarina tedesca e italiana nelle acque brasiliane, che già aveva provocato affondamenti di navi mercantili nazionali. Il Brasile in seguito ruppe le relazioni diplomatiche con la Romania (marzo) e l’Ungheria (maggio). Nel novembre, a seguito di un’incursione della polizia “collaborazionista” nella sede dell’Ambasciata brasiliana a Vichy, furono sospese le relazioni anche con la Francia di Petain.

Nei primi mesi del 1942 gli attacchi dei sottomarini tedeschi ed italiani nei pressi delle coste brasiliane provocarono l’affondamento di molte navi. Il 14 febbraio fu affondata la prima nave brasiliana, la Cabedelo , con la morte di 54 marinai. Seguirono altri 24 affondamenti nel 1942, 8 nel 1943 e 1 nel 1944, per un totale di 36 navi e quasi 1000 morti. Il periodo più nero della storia della Marina mercantile brasiliana fu l’agosto del 1942. Tra il 15 e il 19 i siluri italo-tedeschi colarono a picco ben 6 navi tra le quali la Baependi, la Anibal Benevolo e la Araraquara. A questo proposito è importante ricordare che il 28 luglio, ad opera di un sottomarino tedesco, era già colata a picco la nave Piave che aveva a bordo alcuni marinai italo-brasiliani tra cui il motorista Ernesto Rocco. In Brasile, dopo i primi affondamenti di navi nazionali, l’opinione pubblica si scagliò contro la polizia politica dell’Estado Novo, diretta da Filinto Mùller, accusata di non fare niente contro la rete di spie filo naziste presenti nel Paese. In effetti, per il governo il problema della “Quinta-Colonna” diventò scottante. Le spie trasmettevano i movimenti delle navi e il caso più famoso fu quello di un certo Nils Cristennsen, che trasmise ai sottomarini nazisti la rotta della Queen Marycarica di soldati statunitensi diretti in Africa. Scoperto ed arrestato, Cristennsen, fu condannato a trenta anni di prigione con l’accusa di criminale di guerra. Contemporaneamente furono smantellate le compagnie aeree Condor (tedesca) e LATI (italiana) considerate centri di operazioni spionistiche.

Anche l’attività diplomatica si fece intensa e il 23 maggio 1942 venne firmato tra gli Stati Uniti ed il Brasile un trattato segreto politico-militare, la cui principale conseguenza fu la creazione di due commissioni tecnico-militari miste.

Aereo compagnia LATI - Questo tipo di aeromobile effettuati voli tra Roma e Rio de Janeiro - http://www.spmodelismo.com.br/howto/ac/lati.php
Aereo compagnia LATI – Questo tipo di aeromobile effettuati voli tra Roma e Rio de Janeiro – http://www.spmodelismo.com.br/howto/ac/lati.php

In Brasile, i militari che, sul piano della politica interna, favorivano un regime duro sulla falsa riga dei regimi nazifascisti europei e che in precedenza si erano opposti ad una stretta collaborazione con gli Stati Uniti, erano in apparenza sconfitti. Così subito dopo Pearl Harbor e dopo la decisione del governo di Rio di schierarsi con gli Stati Uniti, i due esponenti dell’ala nazionalista, Gaspar Dutra e Goes Monteiro, proposero le dimissioni dai loro incarichi governativi. Vargas fu però costretto a non accettare per non indebolire i vertici delle Forze Armate e rilanciò ancora una volta la necessità di appoggio dell’Esercito all’Estado Novo. Per questo nei differenti articoli del trattato segreto, stipulato tra il Brasile e gli Stati Uniti il 23 maggio 1942, si poneva la base per la prossima futura collaborazione bellica che non si riduceva soltanto alla presenza di truppe straniere in Brasile, ma che prevedeva anche l’intervento statunitense in caso d’attacco al Brasile da parte di un altro paese americano. Infine si accennava alla futura partecipazione diretta del Brasile ad operazioni all’estero, che configurava l’origine della Forza di Spedizione Brasiliana e quindi una valorizzazione dell’Esercito stesso e dei suoi quadri.

A seguito di questi nuovi passi il 31 agosto 1942, con il Decreto n° 10.358, fu dichiarato lo stato di guerra al termine di una riunione alla quale avevano partecipato tutti i ministri del governo Vargas. Il Brasile era in guerra contro la Germania e l’Italia.
Intanto, a livello internazionale, il 5 settembre 1942, il presidente statunitense Roosevelt aveva approvato l’operazione “Torch” e l’8 novembre avvenne lo sbarco angloamericano nel Nord Africa. In breve si ridussero gli attacchi da parte dei sommergibili dell’asse e Rio dovette mutare la sua posizione e chiese di poter partecipare attivamente al conflitto.

La prima proposta di Roosevelt fu quella di usare le truppe brasiliane nella difesa delle Azzorre portoghesi, per permettere alle truppe di Salazar di essere impiegate più utilmente in Portogallo. Così il 15 marzo il ministro della guerra, generale Gaspar Dutra, decretava, autorizzato da Vargas, la creazione di un Corpo di spedizione «…da inviare in Europa e composto da 100 mila uomini».

Il simbolo della Forza di Spedizione Brasiliana
Il simbolo della Forza di Spedizione Brasiliana

Le ragioni che indussero il Brasile a premere per l’impresa militare d’oltreoceano erano numerose e di tipo diverso. Dal punto di vista della politica internazionale si trattava, per il grande stato populista sudamericano, di sostenere la propria posizione di fronte ai futuri negoziati di pace e di rafforzare e riaffermare il proprio prestigio politico, diplomatico e militare nell’America Latina.

Ma i motivi di carattere interno prevalsero nettamente in quest’atteggiamento. I cambiamenti nella posizione internazionale del Brasile, che erano stati relativamente lenti ad evolvere fino ad un punto di integrale inserimento nello schieramento alleato, furono determinati da uno sviluppo socio-politico, che avrebbe avuto poi vaste conseguenze nel futuro del paese. Per questo motivo il governo di Vargas, una vera e propria dittatura, si trovò di fronte ad enormi cambiamenti sociali e non poteva fare a meno di prenderne atto. Paradossalmente anche lo stesso P.C.B. (Partito Comunista Brasiliano) era dell’idea che la creazione della FEB avrebbe rafforzato, in un certo senso, la marcia verso la restaurazione della democrazia brasiliana; infatti, secondo i comunisti, la FEB andando a combattere in Europa contro le dittature fasciste dell’Asse, avrebbe scosso il paese. Fu così che i maggiori partiti di opposizione iniziarono una politica di “appoggio condizionato” a Vargas, seguendo la politica del capo dell’opposizione Prestes che, privilegiando lo scontro con il nemico nazifascista, sapeva perfettamente che la contraddizione di combattere le dittature all’estero, mantenendone una all’interno, sarebbe prima o poi venuta a galla.

Sul piano militare alcuni ufficiali dell’Esercito brasiliano partirono nel 1943 per gli Stati Uniti dove seguirono, presso le scuole militari di Fort Knox, Fort Benning e Fort Leavenworth, corsi speciali di scuola di guerra. Ma il problema più grave che dovette affrontare l’esercito brasiliano fu quello della formazione dell’intera gerarchia militare. Infatti a partire dagli anni ’20 il processo di modernizzazione dell’Esercito brasiliano era stato operato da una missione militare francese guidata dal generale Maurice Gamelin.

Oltre a questo aspetto cresceva anche l’opposizione alla creazione di un corpo di spedizione brasiliano in Europa. Dwight Eisenhower, comandante in capo delle forze alleate nell’Africa del Nord, e Mark Clark, comandante della 5ª armata degli Stati Uniti, erano profondamente convinti dell’inutilità di inviare truppe impreparate ad affrontare una guerra che non conoscevano. In ogni caso, le presunte obiezioni alla partecipazione del Brasile alla guerra in Europa, scomparirono improvvisamente quando il fronte italiano perse sette divisioni alleate, trasferite all’Operazione “Anvil” (sbarco nella Francia del Sud).

In ogni caso Rio il 9 agosto 1943 decise di formare la 1ª Divisione di Fanteria (1ª D.I.E.), disponendo che essa sarebbe stata composta da tre reggimenti, da quattro gruppi di artiglieria, da un battaglione del genio militare, da un reggimento motorizzato e infine dai vari servizi.

A capo di questa unità fu scelto il generale João Baptista Mascarenhas de Moraes.

João Baptista Mascarenhas de Moraes
João Baptista Mascarenhas de Moraes

L’Esercito brasiliano aveva dottrine di impiego di scuola francese ed era dotato di armi di fabbricazione tedesca, italiana e francese, per cui il problema di farlo combattere a fianco di unità statunitensi presentava diversi aspetti complessi e non poche difficoltà materiali (uno tra tutti il problema del rifornimento munizioni). La fanteria era armata con fucili “Mauser” e mitragliatrici “Hotchkiss”, mentre l’artiglieria possedeva cannoni “Schneider” trasportati a dorso di muli. Per quanto riguarda le unità motorizzate, assenti nell’esercito brasiliano, il governo aveva commissionato 175 carri armati di vario tipo alla “Fiat-Ansaldo” italiana. Occorreva quindi rivedere fin dall’inizio la formazione e l’addestramento dei quadri militari, trasferendo una differente maniera di pensare, per vari aspetti abbastanza innaturale, a ufficiali che dovevano dimenticare tutto il loro precedente addestramento, sovrapponendovi una nuova concezione dei rapporti militari, della tattica e della strategia. Tuttavia, in un modo o nell’altro, bisognava raggiungere questo nuovo addestramento, più psicologico che tecnico, e, quindi, sostituire West Point a Saint Cyr. Nello stesso momento si cercava di preparare un corpo di spedizione secondo i disegni adottati dal potente alleato nordamericano che forniva anche le armi. Tutto, quindi, dovette cambiare e dovette essere, in qualche occasione, improvvisato, poiché i brasiliani non avevano esperienza di spedizioni oltreoceano, non conoscevano il paese e il clima in cui avrebbero dovuto combattere e non avevano nemmeno un significativo patrimonio militare.

Isolata l’Argentina, gli Stati Uniti proseguirono il progetto di costituzione di un Corpo di Spedizione brasiliano, ma fin dai primi incontri si crearono forti attriti tra i comandanti sudamericani e i pari grado nordamericani. In questo periodo ebbero origine le diatribe tra brasiliani e americani che ebbero a manifestarsi in seguito e di cui abbiamo ampie testimonianze nelle memorie del comandante Mascarenhas de Moraes e del Capo di Stato Maggiore De Lima Brayner. Certamente il corpo di spedizione brasiliano non fu considerato dai comandanti statunitensi con grande attenzione, salvo che in qualche episodio, e tutto ciò dette a molti l’impressione che, fin dal principio, lo si reputasse più come “carne da cannone” che come unità militare alleata da considerarsi alla pari.

Intanto, mentre in Brasile si discuteva circa la partecipazione di un contingente sudamericano alla Campagna europea, altri paesi latino americani cercarono di scendere sul campo di battaglia a fianco dell’alleato nordamericano. Il governo del Messico, tra il novembre 1942 e il febbraio 1943, cercò di convincere il governo di Washington ad accettare un proprio corpo di spedizione. Lo “State Department” accettò l’aiuto del partner messicano, ma il “War Department” respinse la richiesta elencando le difficoltà nell’equipaggiare, addestrare e trasportare le truppe.

Trasporto veicoli dell'esercito brasiliano nel 1941 -http://viaturasbrasil.blogspot.com.br/2012/06/chevrolet-1941-exercito-brasileiro.html
Trasporto veicoli dell’esercito brasiliano nel 1941 -http://viaturasbrasil.blogspot.com.br/2012/06/chevrolet-1941-exercito-brasileiro.html

Ma se da una parte si rifiutavano “aiuti”, dall’altra Washington premeva con maggior convinzione su Rio de Janeiro. Venne dunque firmato un nuovo accordo per armare, addestrare e poi far combattere tre divisioni brasiliane, ma la diffidenza tra le parti crebbe e alla fine ne fu preparata una sola in maniera confusa tanto che il contingente brasiliano ricevette i fucili “Garand” e “Springfield”, le mitragliatrici “Thompson” e “Browning” e tutte le armi d’accompagnamento solo al suo arrivo in Italia. Così in Brasile i militari si preparono solo “fisicamente” con estenuanti marce e lunghe e laboriose parate.

La carenza di preparazione ed organizzazione delle unità d’appoggio della FEB non riguardava solo l’armamento: mancavano, infatti, stenografi, chimici, elettricisti, radio-operatori, conducenti di autocarri e trattori, operatori di compressori d’aria e meccanici. Inoltre l’esercito brasiliano disponeva di un solo tipo di uniforme che non era adatta ad affrontare l’inverno italiano. Nacque così il problema di chiedere agli americani anche le divise, a proposito delle quali esistono varie testimonianze su un fatto tragicomico avvenuto subito dopo lo sbarco della FEB a Napoli. Le originali uniformi brasiliane erano di colore molto simile a quello delle divise delle truppe tedesche impiegate in Africa così quando i militari sudamericani si trovarono a passare tra la gente, senza armi, furono scambiati per prigionieri di guerra.

Per avere una idea dell’immensità del materiale che sarebbe servito alla FEB per prepararsi alla guerra, citiamo alcuni dati pubblicati al rientro dei brasiliani in patria; la FEB durante gli otto mesi trascorsi in prima linea con l’impiego di 15.000 uomini sul fronte e 10.000 nei servizi, utilizzò: 11.741 fucili, 1.156 pistole, 500 mitragliatrici, 144 mortai, 585 lanciafiamme, 66 cannoni e ancora 736 telefoni, 42 telegrafi e ben 592 stazioni radio, tutto materiale americano che ricevette solo in Italia.

Un altro problema nell’Esercito brasiliano, che si accentuò durante il conflitto, fu la presenza tra i comandanti di mediocri ufficiali, quasi tutti provenienti dalle classi medie e abituati a trattare i loro soldati come uomini socialmente inferiori. Tutti questi ragazzi, usciti dalle Accademie militari di Resende (Stato di Rio de Janeiro) e Realengo (Distretto Federale), erano motivati più da interessi personali che da un sentimento patriottico. Basti pensare che mentre un generale brasiliano guadagnava 250 $ al mese e un capitano 105 $, un soldato percepiva una paga mensile di 11.40 $. Inoltre nel mondo civile un lavoratore medio guadagnava 14.40 $ al mese e il costo della vita nel 1942 era calcolato in 11 $ mensili.

Un soldato tipico dell'esercito brasiliano nel 1940 - http://www.quata.com.br/claudomiro_fausto_de_lima.htm
Un soldato tipico dell’esercito brasiliano nel 1940 – http://www.quata.com.br/claudomiro_fausto_de_lima.htm

Nel frattempo, in novanta giorni, fu completata la mobilitazione generale dei primi 20.000 soldati brasiliani provenienti da ogni regione del paese, senza alcun criterio di scelta.

Dopo che tutte le unità furono giunte nell’area di raccolta di Rio de Janeiro iniziarono in vari campi i primi addestramenti. Purtroppo i soldati trovarono, invece di efficienti campi di addestramento, delle aree improvvisate con baracche malmesse, costruite senza il minimo riguardo alle comuni norme igieniche e soprattutto senza percorsi di guerra e armi. Anche gli ufficiali che accolsero i soldati non erano all’altezza della situazione. Degli 870 ufficiali molti erano cadetti, appena usciti dalle Accademie, spesso molto più giovani dei soldati che avrebbero dovuto comandare, e ben 302 ufficiali erano riservisti. Fu così che in prima linea si trovarono medici, ingegneri, insegnanti che non avevano alcuna capacità militare, a fianco di giovani ufficiali senza alcuna esperienza di comando.

I primi giorni del neocostituito Corpo di Spedizione trascorsero nel riparare gli “alloggi”, nel costruire i percorsi di guerra e nella immancabile visita medica. E’ giusto premettere che precedentemente nelle Regioni Militari alcune Commissioni mediche avevano esaminato 107.609 richiamati scartandone ben 23.236. Soltanto la sezione medica dentista fece, durante i lunghi mesi di guerra, 16.015 visite, 10.399 trattamenti, 9.071 estrazioni e ben 8.329 otturazioni. La lista dei malati non si fermò alle patologie dentali; molti furono i casi di ricoveri per tubercolosi, sifilide, imbecillità, ernia, daltonismo, parassitosi, problemi circolatori e respiratori, e, incredibilmente, anche due malati di lebbra. Altri avvenimenti che suscitarono scalpore furono la scoperta, durante il viaggio in nave, di un soldato affetto da epilessia grave e di un ufficiale colpito già da alcuni anni da una epatite cronica.

Per terminare questa grave pagina, non possiamo dimenticare che al momento della selezione generale i richiamati non furono sottoposti al test psicologico. Le autorità militari brasiliane avevano, infatti, istituito un gruppo di medici che stava lavorando alla preparazione dei test e che, ironia della sorte, furono pronti per la selezione, mai avvenuta, degli uomini della 2ª Divisione. Purtroppo anche questa mancanza fu pagata in Italia essendo poi risultati 433 i casi di ricoveri per disturbi mentali.
Era logico che in un panorama così nebuloso non ci fosse un grande entusiasmo nella FEB e per la FEB.

Gli uomini stavano svolgendo due cicli di preparazione, studiati dal generale Mascarenhas, che avrebbero dovuto addestrare la 1ª D.I.E. alle tecniche e alle tattiche militari moderne. Al termine dei cicli operativi, il 31 marzo 1944, i soldati brasiliani sfilarono per le strade di Rio de Janeiro in un’imponente parata militare.

Vargas comunicò a Washington che tutto era pronto ma gli statunitensi, impegnati nella preparazione dell’Operazione “Overlord”, presero tempo, e ciò causò tra i generali brasiliani il timore di un calo d’interesse da parte degli Stati Uniti nel progetto. Il problema risiedeva nell’assenza nella Marina mercantile brasiliana di grandi piroscafi idonei al trasporto di truppe e nel contemporaneo impegno delle Marine alleate nell’organizzazione dello sbarco in Normandia. A giugno finalmente l’ufficiale di collegamento a Washington, Leitào de Carvalho, riuscì ad ottenere una nave statunitense e immediatamente informò Rio di tenersi pronti.

Nave della Marina degli Stati Uniti USS Gen. W. A. Mann, che ha trasportato le truppe brasiliane in Italia nel 1944 - http://www.navsource.org/archives/09/22/22112.htm
Nave della Marina degli Stati Uniti USS Gen. W. A. Mann, che ha trasportato le truppe brasiliane in Italia nel 1944 – http://www.navsource.org/archives/09/22/22112.htm

Fu così che, nella notte tra il 29 ed il 30 giugno un primo scaglione, al comando del generale Zenobio da Costa, raggiunse il porto di Rio, Cais do Porto, dove ad attenderli era ancorato il piroscafo statunitense General William a. Mann di 36.000 t.

Le operazioni di imbarco dei militari brasiliani si svolsero velocemente, ma a creare polemiche e scompiglio ci si misero i militari statunitensi, che, contravvenendo agli ordini brasiliani, se ne stavano in città a festeggiare la partenza. Tutta questa fretta e segretezza trovò spiegazione, secondo McCann, nel fatto che gli ufficiali brasiliani svolsero le operazioni di imbarco anche “…per evitare possibili diserzioni ed evasioni” 71.

La particolarità stava nel fatto che i comandi non temevano solo fughe di soldati, ma defezioni di ufficiali; infatti un plotone del 6° Reggimento di Fanteria, durante i mesi di addestramento, aveva cambiato ben 8 comandanti, e tutti avevano chiesto di essere trasferiti fuori dalla FEB, tanto che 5 delle 9 compagnie del 6° Reggimento avevano subito un “turn-over”.

Alle 06.30 di domenica 2 luglio 1944 il General Mann salpò l’ancora con 5.075 uomini a bordo dei quali 304 ufficiali, scortato dai cacciatorpediniere brasiliani Marcilio Dias e Mariz e Barros, e dallo statunitense Greenhalgh.

Durante la navigazione la cosa che provocò più disagi fu l’alimentazione americana; infatti il rancio era composto da scatolette di carne, di fagioli, da gallette e altri generi sconosciuti, nel sapore e nel confezionamento, a molti brasiliani. Inoltre, durante il primo giorno di navigazione, il rancio fu distribuito con ben sei ore di ritardo e al termine gli americani scoprirono che i cambusieri sudamericani avevano servito ben 14.000 razioni a fronte di solo 5.000 uomini imbarcati.

Al 1° convoglio ne seguirono altri 3. Il secondo convoglio salpò da Rio de Janeiro il 22 settembre trasportando il 1° e 3° Gruppo Tattico per complessivi 10.304 uomini dei quali 653 ufficiali. I trasporti truppe utilizzati furono nuovamente il General Mann (sotto il comando del Generale Cordeiro De Farias) e il General Meigs (sotto il comando del generale Olimpio Falconieri Da Cunha) e la scorta fu costituita dall’incrociatore brasiliano Rio Grande do Sul, dall’incrociatore statunitense Memphis e dai cacciatorpediniere americani Trumpter e Cannon. Dopo aver raggiunto Gibilterra al convoglio si aggiunsero navi da guerra britanniche. Tutte le unità raggiunsero poi il porto di Napoli il 6 ottobre.

Soldati brasiliani nel loro cammino verso la guerra in Europa - http://www.portalfeb.com.br/longa-jornada-com-a-feb-na-italia-capitulo-8
Soldati brasiliani nel loro cammino verso la guerra in Europa – http://www.portalfeb.com.br/longa-jornada-com-a-feb-na-italia-capitulo-8

Il terzo convoglio partì invece da Rio il 25 novembre con il trasporto truppe USS General Meigs (sotto il comando del colonnello Mario Travassos) con un totale di 4.682 uomini di cui 277 ufficiali. Il General Meigs fu scortato dall’incrociatore americano Omaha, dall’incrociatore brasiliano Rio Grande do Sul e dal cacciatorpediniere brasiliano Marcilio Dias. Giunti nel nordest del Brasile in prossimità della base di Belem, le navi scorta brasiliane furono sostituite dall’incrociatore Bahia e dal cacciatorpediniere Mariz e Barros. Tale convoglio, nuovamente rinforzato a Gibilterra da unità della marina britannica, giunse a Napoli il 7 dicembre.

Infine il 9 febbraio 1945 fu imbarcato sul trasporto dell’USS General Meigs (comandato dal tenente colonnello Ibà Jobim Meirelles) l’ultimo contingente della FEB, composto da 5.082 uomini di cui 247 ufficiali. Scortato dai cacciatorpediniere brasiliani Mariz e Barros e americano Greenhalgh e dall’incrociatore statunitense Marblehead, giunse a Napoli il 22 febbraio77.

Pertanto furono inviati in Italia 25.334 uomini dei quali, è importante ricordare, 111 raggiunsero l’Italia con gli aerei della FAB. Il trasporto aereo, che seguì la rotta Rio-Natal-Dakar-Napoli, fu necessario per la presenza di 67 infermiere che potevano, in nave, creare alcuni problemi di ordine e disciplina.

Generale Mark Wayne Clark
Generale Mark Wayne Clark

La FEB (Forza di Spedizione Brasiliana) in Italia fu aggregata al IV Corpo d’Armata (del generale Willys Crittenberger) della 5ª Armata (del generale Mark Clark). La 5ª e l’8ª facevano parte del XV Gruppo d’Armate comandato dal maresciallo Alexander.
Il primo scaglione delle truppe brasiliane sbarcò il 16 luglio nel porto di Napoli e fu subito trasferito con autocarri in una vicina area destinata alla prima fase dell’addestramento. In realtà, nei piani alleati, il punto d’arrivo della FEB avrebbe dovuto essere l’Africa, dove già esistevano campi di addestramento utilizzati dalle truppe inglesi e americane; il mutare della situazione militare fece cambiare i piani e quando i sudamericani sbarcarono in Italia nel campo base loro destinato non trovarono altro che alberi da frutta.
Oltre a mancare la dotazione del campo non giunse neppure l’armamento così come l’equipaggiamento. Non rimase che riproporre nuovamente un programma di addestramento fisico. A rallentare la preparazione anche un lungo litigio tra i comandi. Gli americani infatti inviarono 5.000 fucili “Springfield” M-1903, ma il comandante della FEB, Mascarenhas de Moraes, avendo capito che le sue truppe avrebbero ricevuto dagli americani i nuovi fucili semiautomatici “Garand” M-1 rifiutò i M-1903 ormai superati. Trascorsero così altre due settimane di paralisi.

Lentamente poi ogni reparto iniziò a ricevere il necessario per iniziare l’addestramento, ma prima ancora di preparare un buon programma il contingente fu trasferito a Tarquinia dove gli istruttori statunitensi, affrontando anche il problema della differenza di lingua, iniziarono il lavoro.

 Soldati brasiliani sbarcare in Italia - http://memoriasdofront.blogspot.com.br/2008/11/o-dia-estava-claro-e-ensolarado.html
Soldati brasiliani sbarcare in Italia – http://memoriasdofront.blogspot.com.br/2008/11/o-dia-estava-claro-e-ensolarado.html

Il 18 agosto cominciò un nuovo trasferimento nei pressi di Vada (Livorno) e l’indomani arrivò, proveniente dalla 5ª Armata, il reparto istruttori: ufficiali e uomini di truppa di divisioni americane sperimentate in combattimento. Per completare con le prove sul campo il periodo stabilito di 3 settimane. Troppo poco, come vedremo per dire di aver formato sufficientemente il contingente.

Il giorno successivo all’arrivo dei brasiliani a Vada, 19 agosto, la FEB ricevette la visita del Primo ministro inglese Winston Churchill.
Durante i giorni di Vada si procedette a formare anche il corpo autisti del Corpo di Spedizione, che mancava totalmente di esperienza di guida. Così per tutto il periodo di guerra si ebbero incidenti di ogni tipo, e perdite di mezzi per banali uscite di strada (anche lontano dalla linea del fronte). E alla fine della guerra su un totale di 457 caduti della FEB furono ben 24 i morti per incidente d’auto (7 per incidenti da arma da fuoco, 4 per annegamento, 3 per omicidio, 1 per suicidio).

Finalmente poi a fine agosto dalla P.B.S. (Peninsular Base Section) giunsero a Vada i camion carichi di materiali: fucili, mitragliatrici, radio, elmetti, uniformi, borracce, ecc. A quel punto molti credettero di aver preparato i brasiliani alla guerra ma già dai primi giorni di settembre apparvero subito evidenti le carenze nell’addestramento della FEB. La 5ª armata aveva però bisogno di uomini per l’operazione Olive e il 9 settembre fu deciso di sostituire gli elementi della 1ª Divisione corazzata USA del generale Vernon Prichard con la FEB. Il I gruppo d’artiglieria della FEB, al comando del colonnello Da Camino, avrebbe sostituito il 434° battaglione statunitense. I brasiliani avrebbero preso contatto con i tedeschi dopo Vecchiano (Pisa) risalendo poi le coste delle Alpi Apuane in direzione di Massarosa e Camaiore.

I primi reparti brasiliani furono inseriti nella 45ª Task Force americana che era una formazione assai eterogenea, composta da americani bianchi (598° battaglione di artiglieria da campo USA), americani di origine giapponese (il 100° battaglione fanteria nippo-americano del 442° gruppo da combattimento), americani neri (370° reggimento di fanteria della 92ª Divisione USA “Buffalo”), britannici (un reparto di contraerea) e i brasiliani del 6° R.I.

Gruppo di soldati della BEF a Camaiore - http://codinomeinformante.blogspot.com.br/2011/04/folha-de-sao-paulo-pracinhas-foram-2.html
Gruppo di soldati della BEF a Camaiore – http://codinomeinformante.blogspot.com.br/2011/04/folha-de-sao-paulo-pracinhas-foram-2.html

Il 18 settembre il primo plotone della 1ª compagnia del genio, al comando del tenente Paulo Nunes Leal, raggiunse la cittadina di Camaiore e fu accolto dalla formazione partigiana “Garosi”. Il rapporto con i partigiani italiani fu prezioso per i sudamericani durante tutto il periodo bellico. Questi ricercarono la collaborazione degli italiani e spesso li usarono per le pattuglie o sortite ma dopo la guerra la memorialista lentamente ha cercato di seppellire questa vicenda.

Aggregato alla FEB si trovava come ufficiale di collegamento il colonnello N.S. Mathewson, che ha lasciato una importante “Storia operativa della 1° B.E.F. (Brazilian Expedicionary Force)” nella quale viene tracciata – tra luci e ombre – la vicenda della FEB in Italia.
In quei giorni si registrò anche la prima vittima brasiliana. Il caduto apparteneva alla 9ª compagnia del II/6° ed era soprannominato Mussolini per la sua somiglianza con il dittatore italiano. Morì ucciso nottetempo dalla sventagliata di una mitragliatrice manovrata troppo precipitosamente da un suo compagno. Si chiamava Antenor Chirlanda ed era originario di San Paolo.

Nel frattempo le unità brasiliane proseguivano nella loro progressione raggiungendo le pendici versiliesi delle Apuane sotto il Monte Prana. Il 28 settembre l’unità brasiliana ricevette l’ordine di spostarsi nel settore della Valle del Serchio con il compito di raggiungere Castelnuovo di Garfagnana. Durante la notte tra il 29 ed il 30 settembre gli uomini del magg. Nobrega (III/6°) raggiunsero la zona di Pescaglia-Borgo a Mozzano e sostituirono gli effettivi di colore del III/370° (92ª divisione USA). Dopo alcuni giorni di spostamenti finalmente il 2 ottobre, sotto una pioggia che cadeva da oltre 24 ore, il distaccamento brasiliano concluse il suo nuovo schieramento, sistemando il I/6° e il III/6° lungo la Valle del Serchio e il II/6° in copertura nella zona montagnosa ad occidente del fiume.

I tedeschi in quel settore avevano già raggiunto e armato una linea di difesa che lasceranno sono nell’aprile del 1945 e per alcuni giorni si creò tra Borgo a Mozzano e Castelnuovo di Garfagnana una fascia terra di nessuno all’interno della quale solo i partigiani scesi dalle montagne avevano un parziale controllo. Il comando brasiliano infatti fermò ogni tipo di azione rimanendo immobile sulle posizioni di partenza. Il caso più eclatante si compì a Barga – a pochi chilometri da Borgo a Mozzano – che fu abbandonata dai tedeschi il 4 ottobre e raggiunta dai brasiliani solo sette giorni dopo. Nel settore avversario dal 19 ottobre, era giunta in Garfagnana la divisione alpina “Monterosa” della Repubblica Sociale Italiana. L’unità al comando del gen. Mario Carloni, era rinforzata dal II battaglione del 6° reggimento della divisione di fanteria di Marina “San Marco” (meglio conosciuto come battaglione “Uccelli” dal nome del suo comandante) e dal 285° reggimento della 148ª divisione tedesca.

Gen. Mario Carloni - http://www.flamesofwar.com/hobby.aspx?art_id=213
Gen. Mario Carloni – http://www.flamesofwar.com/hobby.aspx?art_id=213

Il 21 ottobre i brasiliani avanzarono nel settore dell’Aosta che da poche ore si trovava in prima linea riuscendo a superare la linea. Ma il successo – seppur parziale – non venne colto e unità tedesche della 232ª divisione tedesca e le riserve dell’Aosta e del battaglione Brescia in poche ore ristabilirono la difesa passando al contrattacco.

Il fronte poi si arrestò e la FEB ricevette l’ordine di spostarsi nella zona di Porretta Terme.

In questa prima fase si ebbero 13 morti, 151 feriti ed infortunati e 29 dispersi.

Dopo il brusco fallimento dell’Operazione “Olive”, che avrebbe dovuto portare allo sfondamento del fronte italiano, nuovi scenari andavano maturando in seno ai comandi militari angloamericani e ben presto la posizione dei brasiliani come combattenti alleati cambiò radicalmente. Il gen. Clark alla Conferenza della Futa il 31 ottobre 1944 decise di gettare nella mischia nuove unità: la 1ª DIE e la 92ª Divisione USA, sostituendo la 88ª Divisione USA del magg. gen. Kendall, che aveva sostenuto l’attacco e che da 2 mesi viveva in prima linea.

Fu così che nei primi giorni di novembre il generale Mascarenhas de Moraes trasferì il comando generale della FEB dalla base di Pisa a quella di Pistoia, mentre il P.C. (Posto Comando) Avanzato fu spostato dal piccolo centro della Valle del Serchio, Borgo a Mozzano, a Porretta Terme.

Veículo brasileiro na Itália - http://www.aviationdream.net/forum2/lofiversion/index.php/t5498.html
Veículo brasileiro na Itália – http://www.aviationdream.net/forum2/lofiversion/index.php/t5498.htm

Il 5 novembre tutte le unità della FEB si erano schierate nel nuovo settore e al termine degli spostamenti il nuovo dispositivo del IV Corpo d’Armata si presentava eterogeneo: a sinistra della valle del Reno si trovava la 6ª Divisione Blindata sudafricana del magg. gen. Poole, al centro la FEB del gen. Mascarenhas e a destra della valle del Reno si trovava la 45ª Task Force del gen. Rutledge, rinforzata dalla 1ª Divisione Blindata USA. I tedeschi difendevano il settore centrale con il XIV Corpo Panzer, composto da 5 divisioni, che dipendeva dalla 10ª Armata. Nel settore specifico difeso dai brasiliani si trovava la 232ª Divisione di fanteria del gen. Eckard von Gablenz.

Il nuovo fronte si presentò come un settore maggiormente impegnativo, rispetto al terreno della valle del Serchio e alla veloce azione svolta dai brasiliani durante i primi giorni di guerra in settembre. L’artiglieria germanica, da posizioni dominanti, era in grado di battere la zona occupata dalle truppe brasiliane con precisione e continuità e l’attività delle pattuglie era sempre vivace.

Gli uomini della FEB rimasero fino al 15 novembre praticamente inattivi per gli inconsistenti attacchi del nemico, poi il 16 la 2ª e la 3ª compagnia del 6° reggimento occuparono quota 670, meglio conosciuta come Torre di Nerone.

Monte Castello - http://www.portalfeb.com.br/sobre/forca-expedicionaria-brasileira
Monte Castello – http://www.portalfeb.com.br/sobre/forca-expedicionaria-brasileira

Si trattava di un’azione legata all’operazione denominata “Preliminary” che doveva portare alla conquista di Monte Castello, un’impervia collina alta 887 metri posta tra la congiunzione della divisione brasiliana e la Task Force.

La presa di Monte Castello avrebbe permesso alle unità alleate di poter sferrare un attacco al Monte Belvedere – quota 1200 – che rappresentava la chiave dell’intero settore. Fu così che nella notte tra il 28 ed il 29 novembre il I/1° (magg. Uzeda), il III/11° (magg.Candido) e il III/6° (magg. Nobrega) con l’appoggio dell’artiglieria, sotto il diretto comando del gen. Cordeiro de Faria, iniziarono la manovra verso l’obiettivo. Fin dalle prime ore però fu chiaro che l’intento sarebbe fallito. Le unità giunsero al contatto con i tedeschi in maniera disgregata e in poche ore persero 190 tra morti, feriti e dispersi. Fu un vero disastro tecnico e tattico e mentre i comandanti sudamericani cercavano di studiare un’operazione d’attacco che potesse garantire una pronta rivincita, i tedeschi operarono tra il 30 novembre e il 2 dicembre profonde penetrazioni nelle linee brasiliane. Le unità sudamericane che avevano attaccato il 29 novembre avevano il morale molto basso per le alte perdite subite furono rimpiazzate da reparti freschi tra il primo ed il 3 dicembre. Ma era chiaro che la FEB non era pronta alla guerra. In questa fase il col. Mathewson, parlò nel suo diario di “situazione critica” per il Corpo di Spedizione brasiliano che nel mese di novembre aveva perso ben 340 uomini (48 morti, 289 feriti e 3 dispersi).

Solo a partire dal 5 dicembre la linea difensiva fu pienamente ristabilita e tornò ad una certa normalità.

Ma lo smacco di Monte Castello bruciava e il 12 dicembre i brasiliani tornarono all’attacco della collina.

Per la seconda azione brasiliana contro Monte Castello fu affidato il comando delle operazioni al gen. Zenobio da Costa, il “conquistatore” di Camaiore. Il piano prevedeva l’avanzata coordinata del II/1° e del III/1°, in direzione di Casa Guanella e Quota 887, mentre un distaccamento misto di uomini del 6° reggimento al comando del col. Nelson de Mello avrebbe creato una azione diversiva sul fianco destro. Per l’occasione tutti i gruppi d’artiglieria furono preparati e rinforzati dai pezzi del 68° battaglione da campo USA.

L’ora X era stata stabilita alle 06.00 della mattina del 12 dicembre, ma le pesanti condizioni del terreno aggravarono notevolmente il compito degli attaccanti, e ben presto il II/1° del magg. Syseno non poté mantenere i tempi di marcia, mentre il III/1° del magg. Franklin avanzò sotto un fitto fuoco di mitragliatrici e, constatata l’impossibilità di procedere, ripiegò, lasciando senza copertura il II/1° e nei duri scontri successivi la 7ª e la 9ª compagnia subirono ingenti perdite.

La regione di Monte Castello oggi - http://www.portalfeb.com.br/nos-passos-da-feb
La regione di Monte Castello oggi – http://www.portalfeb.com.br/nos-passos-da-feb

Nel tardo pomeriggio il gen. Zenobio da Costa ordinò un ripiegamento generale sulle posizioni di partenza.

I brasiliani subirono 250 perdite (tra questi ben 49 morti) e l’ordine perentorio da parte degli americani di rinforzare le posizioni e lasciar passare l’inverno. E le polemiche e i litigi aumentarono tra statunitensi, sudamericani e in seno ai comandi stessi del corpo di spedizione. Lo stesso Vargas richiamò in patria il capo di stato maggiore De Lima Brayner, mentre la stampa diffondeva notizie sulla disfatta.

Gennaio 1945 fu dunque il mese della completa riorganizzazione militare e psicologica dei reparti della FEB.

L’arrivo poi nel settore della 10ª divisione USA rappresentò per i brasiliani la possibilità di un futuro riscatto dalla sconfitta di Monte Castello, essendo questa una grande unità specializzata nei terreni di montagna.

L’8 febbraio a Lucca il generale Crittenberger presentò l’operzione “Encore” che prevedeva lo sfondamento della Linea Gotica nel settore del IV Corpo d’armata, dove la linea era chiamata “Gengis Khan”. Monte Belvedere rimaneva la quota più importante del settore con Monte Castello a fare da cerniera sul punto cardine. Il 19 febbraio fu sferrato l’attacco che – seppur tra mille difficoltà – condusse i brasiliani a conquistare la vetta. Non mancarono le polemiche perché per dimostrare di aver raggiunto la piena maturità militare i comandi della FEB avevano preteso di prendere da soli Monte Castello. Certo che l’avanzata americana aveva giocato un ruolo fondamentale nello scardinamento della linea difensiva. In Brasile la conquista venne festeggiata e ancora oggi rappresenta un vanto militare di tutto rispetto.

Raggiunti gli obiettivi prefissati, l’azione offensiva delle unità del IV Corpo d’armata del gen. Crittenberger si fermò. Monte Belvedere e Monte Castello furono occupati e difesi dai contrattacchi tedeschi, che per alcuni giorni cercarono di riconquistare le posizioni perse.

Il 4 marzo i brasiliani occuparono l’abitato di Castelnuovo dopo sanguinosi scontri e tra questi un combattimento all’arma bianca che vide soccombere i sudamericani con piccole e veloci unità tedesche.

Nel mese di marzo gli alti comandi alleati studiarono un nuovo piano d’attacco per scardinare definitivamente le linee tedesche. Nella nuova strategia Alexander e Clark accantonarono l’ipotesi di raggiungere Bologna e concertarono con il comandante dell’8ª Armata, gen. McCreery, l’apertura di un varco lungo la strada di Argenta. Le istruzioni prevedevano un primo attacco dell’8ª Armata e, il giorno 14, la spallata degli americani della 5ª Armata.

Simbolo della 5 ª Armata
Simbolo della 5 ª Armata

Lo schieramento alleato del XV Gruppo d’Armate al comando del gen. Clark era composto da 20 divisioni e 10 brigate così disposte sulla linea: il settore occidentale tirrenico era stato affidato ai neri della 92ª divisione di fanteria “Buffalo” (sotto il diretto controllo del comando della 5ª Armata); tra la valle del Serchio e la statale 64 furono disposte la 1ª divisione brasiliana, la 10ª divisione da montagna USA e la 1ª divisione corazzata USA (tutte unità del IV Corpo d’Armata del gen. Crittenberger). Al centro dello scacchiere trovarono posto la 6ª divisione corazzata sudafricana, la 88ª, 91ª, 34ª, e 85ª divisioni di fanteria USA (del II Corpo d’Armata del gen. Keyes). Nel settore orientale difeso dalle unità dell’8ª Armata del gen. McCreery si trovavano: al centro, in corrispondenza del fiume Santerno, la 1ª divisione di fanteria britannica, la 6ª divisione corazzata britannica, la 8ª divisione indiana e la 1ª divisione corazzata canadese (tutte unità del XIII Corpo d’Armata del gen. Kirkman). In prossimità di Imola furono disposte le unità del X Corpo d’Armata britannico del gen. Hawksworth; sulla direttrice della Via Emilia la 3ª e la 5ª divisioni di fanteria polacche (del II Corpo d’Armata polacco del gen. Anders). Infine nel settore di Ravenna furono disposte la 2ª divisione di fanteria neozelandese, la 78ª divisione di fanteria britannica, la 56ª divisione di fanteria britannica (unità del V Corpo d’Armata del gen. Keightley), insieme con i Gruppi di combattimento italiani “Legnano”, “Cremona”, “Friuli” e “Folgore” e alcune brigate britanniche, indiane, polacche e una composta da ebrei.

I brasiliani ricevettero il compito di prendere la cittadina di Montese e poi salire fino a Zocca.

I tedeschi e i repubblichini aveva disposte sul campo il Gruppo d’Armate Liguria, nel settore tirrenico, al comando del gen. Graziani (tra alcune unità tedesche troviamo le divisioni della R.S.I. “Monterosa”, “San Marco”, “Italia” e “Littorio”), al centro la 14ª Armata del gen. Lemelsen e a difesa del settore adriatico la 10ª Armata del gen. Herr.

Il 14 aprile alle ore 09.45 tutto il settore centrale della Linea Gotica si mosse in avanti dopo un intenso fuoco delle artiglierie e gli attacchi a volo radente degli aerei alleati. I primi reparti ad avanzare furono i reggimenti della 10ª divisione da montagna che occuparono in poche ore le posizioni di Castel d’Aiano. I secondi a partire dalle linee furono gli uomini della 1ª divisione corazzata che presero Susano e Vergato. Alle ore 10.15 si mossero gli uomini della 1ª divisione di fanteria brasiliana che, nelle prime ore di avanzata, incontrò una debole resistenza nemica. Ma prima di sera lungo il settore tutte le unità della FEB avevano preso contatto con il nemico subendo in alcuni casi dure perdite.

La distruzione avvenuta nel Montese
La distruzione avvenuta nel Montese

Solo durante la notte tra il 18 e il 19 aprile, i reparti della 114ª divisione tedesca, che difendeva il settore attaccato dalla FEB, ricevettero l’ordine di ritirata fino al fiume Panaro. Montese fu occupato lamentando 34 morti, 382 feriti e 10 dispersi, per un totale di 426 uomini fuori combattimento.

I tedeschi, dopo aver abbandonato le posizioni di Montese, si ritirarono nell’area di Zocca e, da quella nuova posizione, continuarono a bombardare le linee brasiliane. Tutto il settore centrale del fronte si fermò per una necessaria riorganizzazione ma già il 20 aprile tutte le unità del settore centrale della Linea Gotica erano nuovamente in movimento e le unità esploranti del cap. Plinio Pitalunga del Corpo di Spedizione Brasiliano ricevettero l’ordine di conquistare le posizioni a nord di Zocca.

Ormai il fronte era crollato, ma mentre le unità americano correvano verso la Pianura Padana i brasiliani si ritrovarono senza mezzi. A quel punto il comando brasiliano decise di costituire una unità celere per chiudere la valle del Panaro e bloccare la via delle unità nemiche in ritirata dalla Garfagnana.

Il gruppo celere costituito prese il nome dal suo comandante e divenne “Grupamento Coronel Nelson de Mello” e fu composto dal II/6° e dal II/1° fanteria, da una compagnia di obici del 6°, da quattro plotoni di carri armati americani del 894° battaglione e da unità di sanità, trasmissioni e genio.

Il 25 aprile il comando della 1ª divisione brasiliana fu trasferito da Vignola a Montecchio Emilia e tutte le unità del corpo affluirono in pianura. Dal 26 al 30 aprile brasiliani, tedeschi, repubblichini e naturalmente partigiani si misurarono in un duro scontro distinto in tre fasi: la prima, avvenuta tra il 26 ed il 27 aprile, è ricordata come combattimento di Collecchio; la seconda, svoltasi il 28 aprile, è nota come combattimento di Fornovo. La terza, avvenuta tra il 29 ed il 30 aprile, rappresenta l’apice della partecipazione brasiliana in Italia, ed è passata a memoria come la giornata della resa del nemico. Si consegnarono infatti nelle mani dei brasiliani 13.579 prigioni e tra questi alle 18.30 del 29, insieme alla truppa, giunse il gen. Carloni con tutto il suo Stato Maggiore, mentre alle 18.00 del 30 aprile arrivò infine, con gli ultimi uomini della sua divisione, anche il generale tedesco Fretter Pico.

Il generale Otto Fretter-Pico , comandante della 148. Infanterie-Division tedesca
Il generale Otto Fretter-Pico , comandante della 148. Infanterie-Division tedesca

Il 30 aprile la FEB ricevette l’ordine di occupare una zona nei pressi di Alessandria e lì attendere nuovi ordini.

Unità brasiliane sfilarono a Milano assieme ai partigiani lombardi, il Combat Command B della 1ª divisione blindata USA, il II/135 reggimento della 34ª divisione USA, la compagnia A del 1° battaglione di carri della 1ª divisione blindata USA, un plotone del reggimento speciale della Raggruppamento “Legnano”, una batteria d’artiglieria del 7° gruppo dell’artiglieria inglese, una sezione del 26° reggimento d’artiglieria contraerea inglese, due plotoni della compagnia A del 751° battaglione carri da combattimento USA.

Il 4 luglio 1945 la FEB ricevette l’ordine di spostarsi nei pressi di Napoli per iniziare le operazioni preliminari di imbarco per il rimpatrio. Il presidente Vargas temendo l’arrivo di un eroe di guerra e di 25.000 soldati ben armati e ben addestrati decise di “seppellire” la memoria e i febiani. Il gen. Mascarenhas de Moraes fu rimpatriato in aereo e una volta giunto a Rio de Janeiro fu accompagnato nella sua residenza privata dallo stesso Ministro della Guerra gen. Dutra. Pochi giorni dopo, il 23 luglio, il generale fu inviato in Perù per una missione diplomatica che lo tenne lontano dal paese. Nel frattempo le partenze dei soldati, come citato, iniziarono dal porto di Napoli il 6 luglio e si conclusero il 19 settembre. Ma poche ore prima del ritorno a casa i comandi brasiliani fecero stampare in fretta e furia dalla tipografia milanese A. Macchi & C., migliaia di congedi che furono rilasciati ai soldati durante il viaggio. Al loro arrivo il Ministro della Guerra ordinò che entro 8 giorni dallo sbarco le divise, i distintivi con il Cobra e lo stemma della 5ª Armata dovevano scomparire per sempre dal Brasile.

Un Aereo brasiliano P-47 in Italia - http://voandoemsonhosuomini.blogspot.com.br/2010/11/p-47d-thunderbolt.html
Un caccia-bombardieri P-47 brasiliano in Italia – voandoemsonhosuomini.blogspot.com.br

Dal febbraio 1945 la FEB aveva ricevuto anche l’appoggio del gruppo aereo brasiliano – F.A.B. (Força Aérea Brasileira) – dotato di  caccia-bombardieri P-47 ceduti dagli Stati Uniti.

La decisione di inviare in Europa un gruppo d’aviazione brasiliano risale alla fine del 1943 e fu presa insieme a quella di impegnarsi con il Corpo di Spedizione terrestre. In linea generale fu deciso di costituire un gruppo da caccia-bombardieri e, al servizio dell’artiglieria divisionale, una squadriglia per il collegamento e l’osservazione.

In Brasile da alcuni anni il presidente Vargas stava lavorando per rendere efficiente l’aeronautica delle forze armate; il primo passo fu la creazione, il 20 gennaio 1941, del Ministero dell’Aviazione e, subito dopo, l’unificazione dell’Aviazione dell’Esercito con quella della Marina. A partire dal 1942 giunsero in Brasile alcune squadriglie aeree dell’USAAF, che operarono nelle basi di Natal e Recife con il compito di difesa aerea dei convogli alleati che attraversavano l’Atlantico. In quel periodo esperti piloti americani prepararono una squadriglia di aviatori brasiliani che si distinse in azioni di difesa marittima. L’azione più importante compiuta dai brasiliani durante i pattugliamenti sull’oceano fu l’affondamento di un U-Boot tedesco, avvenuto il 12 agosto 1943. Il cap. Santos Polycarpo, a bordo di un “A-28-A” e il cap. Coutinho Marques, ai comandi del PBY “Catalina” 14, intercettarono l’U-199, comandato dal cap. Hans Werner Kraus e, dopo averlo mitragliato, lo affondarono con tre siluri.

Un idrovolante Consolidated PBY Catalina utilizzato dai brasiliani per proteggere le proprie coste
Un idrovolante Consolidated PBY Catalina utilizzato dai brasiliani per proteggere le proprie coste

Il 18 dicembre 1943 fu istituito il 1° Gruppo da Caccia e a comandarlo fu chiamato il magg. Nero Moura. L’addestramento del primo gruppo di piloti iniziò il 3 gennaio 1944 negli Stati Uniti. Nel marzo, dopo una pratica individuale di 60 ore sui caccia “Curtiss P-40”, i primi piloti addestrati raggiunsero i 350 uomini mobilitati per la creazione del Gruppo nella base aerea di Agua Dulce, a Panama. Nel campo del paese centroamericano tutti i piloti iniziarono un duro addestramento, che fu poi completato nella base dell’USAAF a Suffolk, presso New York. Alla fine i brasiliani furono dotati dei citati caccia-bombardieri “Republic P-47 Thunderbolt” di fabbricazione statunitense.

Terminato l’addestramento il gruppo con aerei e materiali fu imbarcato il 19 settembre 1944 sul trasporto francese Colombie nel porto di New York. Il 9 ottobre la nave giunse a Livorno e il 1° Gruppo da Caccia brasiliano fu destinato al campo di aviazione di Tarquinia. In quei giorni la FAB fu inquadrata nel 350° reggimento aereo da combattimento (Fighter Regiment), della 62ª aerobrigata da caccia Usa. A sua volta la 62ª brigata faceva parte del XXII Comando Aereo Tattico di supporto alle azioni terrestri della 5ª armata. Il 4 dicembre, in relazioni agli sviluppi del conflitto, l’intero 350° reggimento fu spostato nella base di Pisa, a ridosso del fronte.

Durante i primi giorni di guerra, come era consuetudine nelle squadriglie americane, la FAB scelse il suo emblema e il motto da combattimento. Come stemma fu preferito un agguerrito struzzo che volando tra le nuvole sparava fucilate; mentre come motto i piloti optarono per il grido “Senta a Pua!” (Senti la Punta!).

Simbolo usato in aerei brasiliani in Italia durante la Seconda Guerra Mondiale.
Simbolo usato in aerei brasiliani in Italia durante la Seconda Guerra Mondiale.

La FAB dal comandante magg. gen. B.J. Chidlaw, del XXII Comando aereo tattico, ricevette l’ordine di seguire tre principali linee d’azione:

a) appoggio diretto alle forze terrestri, con la regolazione del fuoco dell’artiglieria;

b) isolamento del campo di battaglia, con l’interruzione sistematica delle vie di comunicazione che collegavano il fronte nemico con la valle del Po e il resto del territorio occupato fino al passo del Brennero;

c) distruzione degli impianti militari e industriali dell’Italia settentrionali265.

Purtroppo la FAB pagò un alto tributo di sangue. Durante l’inverno perirono in seguito di incidenti di volo 3 piloti. Il 23 dicembre il ten. Motta Paes, colpito dalla contraerea a nord di Ostiglia (Verona), dopo essersi lanciato con il paracadute fu catturato dai tedeschi.

Tenente aviatore Ismael da Motta Paes, catturato dai tedeschi e lebertado dopo la fine della guerra - http://www.abra-pc.com.br/mito19.html
Tenente aviatore Ismael da Motta Paes, catturato dai tedeschi e lebertado dopo la fine della guerra – http://www.abra-pc.com.br/mito19.html

Il 2 gennaio, nei pressi di Alessandria, il ten. Medeiros lanciatosi dall’aereo in fiamme atterrò sui fili elettrici dell’alta tensione e morì fulminato. Il 4 febbraio il cap. Miranda e il ten. Danilo Moura saltarono dai loro aerei in fiamme dopo essere stati colpiti dalla contraerea; il cap. Miranda con un braccio spezzato fu nascosto da un gruppo di partigiani nei pressi di Padova. Mentre il ten. Moura aiutato da diversi gruppi partigiani, dopo 24 giorni e 260 km di cammino, raggiunse i compagni a Pisa. Anche il cap. Kopp, abbattuto a Parma, fu salvato dai partigiani della zona. Altri 4 piloti invece furono catturati dai tedeschi e inviati nei campi di prigionia; il ten. Paes finì nel campo di Stettino, in Prussia, e ivi liberato dai Sovietici dopo 4 mesi di prigionia. Dei 48 piloti brasiliani impiegati totalmente in combattimento, 6 erano ufficiali del Q.G. e ufficiali di collegamento statunitensi, 3 furono vittime di incidenti, 5 caddero durante operazioni belliche, 8 si lanciarono con il paracadute e finirono o in prigionia o nascosti dai partigiani, infine 5 piloti furono allontanati dal volo e rimpatriati per esaurimento fisico e psichico.

Dalle statistiche formulate nel dopoguerra risulta che furono accreditate ai piloti brasiliani il 28% dei ponti e il 15% dei veicoli tedeschi distrutti, nonché l’85% dei depositi munizioni e il 36% dei depositi combustibile colpiti. In 192 giorni operativi la FAB effettuò ben 2.995 sortite ed uscite offensive, durante le quali lanciò 4.442 bombe di vario genere che colpirono 4.454 obiettivi.

Ovviamente dati propagandistici, gonfiati da qualche solerte burocrate, che comunque non nascondono il buon comportamento dei piloti.

Due P-47 brasiliana, al momento del decollo
Due P-47 brasiliana, al momento del decollo

Per completare il richiamo all’attività della Força Aérea Brasileira sul fronte italiano, è necessario far cenno anche all’attività della squadriglia per il collegamento e l’osservazione. Tale unità lavorò al servizio dell’artiglieria divisionale e giunse in Italia nell’ottobre 1944 assieme al 3° scaglione della FEB. Il 10 ottobre con il mezzo da sbarco “LC-1- 116” i piloti e gli avieri della squadriglia furono trasportati a Livorno, e, in seguito, con alcuni camion a Pisa. Nell’aeroporto toscano il reparto di collegamento ricevette 9 aerei del tipo Piper Cub, con motore da 65 cavalli, equipaggiati solo con una radio e senza alcun tipo di armamento. Nello stesso periodo si aggregò alla squadriglia il magg. J.W. Buyers, ufficiale di collegamento USA, che svolse un magnifico lavoro di addestramento e preparazione dei piloti brasiliani. La Squadriglia di collegamento e osservazione effettuò 1.654 ore di volo, 682 missioni e più di 400 correzioni del tiro dell’artiglieria. Ogni pilota eseguì tra le 95 e le 70 missioni.

Da parte sua il personale terrestre della FAB (Força Aérea Brasileira) fece rientro in Brasile via mare con il primo scaglione che partì da Napoli il 6 luglio. I piloti invece furono selezionati e 20 di essi furono scelti per essere inviati nella base statunitense di San Antonio in Texas, dove ricevettero 20 nuovi P-47 Republic “Thunderbolt”. Poi tutta la nuova squadriglia si spostò nella base aerea brasiliana di “Campo dos Afonsos” presso Rio de Janeiro, dove stabilì la sede operativa.

In conclusione, il bilancio delle operazioni oltre oceano della Forza di Spedizione brasiliana può essere riassunto in pochi dati statistici. Furono presenti in Italia 25.334 uomini, che giunsero nella penisola in 5 scaglioni. Inoltre giunsero in Italia 111 persone, tra le quali il gruppo di infermiere, per via aerea. 15.069 uomini presero parte ai combattimenti, con il seguente bilancio di perdite: 457 morti, dei quali 13 ufficiali e 444 uomini di truppa. Inoltre persero la vita 8 piloti del gruppo aereo della FAB (Força Aerea Brasileira). I feriti da arma da fuoco in azioni di guerra furono 1.577, mentre quelli feriti per incidenti in zona di guerra furono 487; infine gli infortunati lontani dalla linea del fronte furono 658. Il deposito personale, a fronte di 3.179 uomini messi fuori combattimento, fornì alle unità di prima linea 3.379 rimpiazzi.

Il giudizio complessivo dell’operato dei soldati brasiliani in Italia può essere tutto sommato considerato positivo. I sudamericani riuscirono a superare difficoltà che avrebbero costretto anche gli stessi americani a tragiche battute a vuoto e chiaro è il riferimento alla crisi che colpì la FEB dopo la sanguinosa sconfitta di Monte Castello avvenuta nel mese di dicembre.

Truppe brasiliane nella parata per la vittoria a Rio de Janeiro nel 1945
Truppe brasiliane nella parata per la vittoria a Rio de Janeiro nel 1945

Il Brasile pagò enormemente la sua scelta di partecipare al conflitto. Estromesso dalle trattative per i risarcimenti di guerra dovette pagare interamente il prestito di guerra che gli Stati Uniti avevano accordato a Vargas nel 1942. L’ultima rata dei 361 milioni di dollari giunti in Sudamerica fu pagata il 1° luglio 1954. Il totale dei danni, delle spese, dei prestiti da restituire e degli interessi da pagare sommava a 12 bilioni di cruzeiros (2 milioni di sterline o 2 milioni di marchi, del 1945), e tale perdita non fu mai più pareggiata.

Certamente l’amarezza per il torto subito dagli ex-alleati non alimentò tentativi di facili ritorsioni verso i vecchi nemici. Il governo di Rio de Janeiro, che aveva confiscato all’inizio della guerra tutti i beni dei paesi e dei cittadini tedeschi, italiani e giapponesi, superò ogni rancore e restituì tutti i beni sequestrati ai legittimi proprietari. Con questo gesto terminarono tutte le vicende aperte con l’inizio della seconda guerra mondiale ed il Brasile, che aveva vinto la guerra, finì per pagare un conto fin troppo elevato.

AUTORE – ANDREA GIANNASI

http://www.storiain.net/arret/num131/artic3.asp

http://www.storiain.net/arret/num132/artic5.asp

About the Blog author Tokdehistória

Rostand Medeiros was born in Natal, Rio Grande do Norte. He is a 45 years old writer, researcher and expert in producing biographical works. Also does researches in history of aviation, participation of Brazil in World War II and in regionalist aspects of Northeast Brazil.
His member of Genealogy Institute of Rio Grande do Norte – IGRN and SBEC – Brazilian Society for the Study of Cangaço.
In 2009, he was co-author of “Os Cavaleiros dos Céus – A Saga do Voo de Ferrarin e Del Prete” (in free translation, “The Knights of the Sky: The Saga of Ferrarin and Del Prete Flight”), a book that tells a story from 1928, of the first nonstop flight between Europe and Latin America. This book was supported by the Italian Embassy in Brazil, Brazilian Air Force (FAB) and Potiguar University (UNP).
In 2010, Rostand was a consultant of SEBRAE – Brazil’s Micro and Small Business Support Service, participating of the project “Território do Apodi – nas pegadas de Lampião” (in free translation, “Apodi Territory – In the footsteps of Lampião”), which deals with historical and cultural aspects of rural areas in Northeast Brazil.
In 2011, Rostand Medeiros launched the book “João Rufino – Um Visionário de Fé” (“João Rufino – A visionary of Faith”), a biography of the founder of industrial group Santa Clara / 3 Corações, a large coffee roasting company in Latin America. The book shows how a simple man, with a lot of hard work, was able to develop, in Rio Grande do Norte state, a large industry that currently has seven units and 6,000 employees in Brazil.
Also in 2011, he wrote, with other authors, a book of short stories entitled “Travessa da Alfândega” (in free translation, “Customs Cross Street”).
In 2012, Medeiros produced the following books: “Fernando Leitão de Moraes – Da Serra dos Canaviais à Cidade do Sol” (“Fernando Leitão de Moraes – From Sugarcane Mountains to Sun City”) and “Eu Não Sou Herói – A História de Emil Petr” (“I’m not a hero – The Story of Emil Petr”). This latest book is a biography of Emil Anthony Petr, a farmer who was born in Nebraska, United States. During World War II, he was an aviator in a B-24 bombing and became a prisoner of the Germans. This work shows the relationship of Emil with Brazilian people, whose with he decided to live from 1963, when he started to work for Catholic Church.
He also published articles in “Tribuna do Norte”, newspaper of the city of Natal, and in “Preá”, cultural magazine published by Rio Grande do Norte State Government.
He founded SEPARN – Society for Research and Environmental, Historical and Cultural Development of Rio Grande do Norte.
Currently, is working as a Parliamentary Assistant in Rio Grande do Norte Legislative Assembly and develops other books.
Rostand Medeiros is married, has a nine years old daughter and lives in Natal, Rio Grande do Norte, Brazil.

Phones: 0051 84 9904-3153 (TIM) / 0051 84 9140-6202 (CLARO) / 0051 84 8724-9692 (Oi)
E-mail: rostandmedeiros@gmail.com
Blog: https://tokdehistoria.wordpress.com/

NA LINHA DE FRENTE : A HISTÓRIA DA PRIMEIRA TROPA BRASILEIRA A LUTAR NA ITÁLIA

Oficiais da companhia: Atratino aparece no centro, sentado ao lado de Duarte (de bigode, à dir.)

1ª Companhia de Petrechos Pesados da FEB era formada por 166 homens, a maior parte de São Paulo

AUTOR – Marcelo Godoy

FONTE – http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,na-linha-de-frente-a-historia-da-primeira-tropa-a-lutar-na-italia,921569,0.htm

Chovia no dia em que o tenente José Maria Pinto Duarte morreu. A temperatura oscilava de 10°C a 12°C nas montanhas toscanas cortadas pelo Rio Serchio. Fazia 15 dias que o avanço brasileiro não se detinha em obstáculo, fosse alemão, italiano ou geográfico. O capitão Atratino Cortês Coutinho e seus homens haviam se instalado em uma casa de grossas paredes de pedra. Dormiam quando começaram a ouvir vozes na madrugada. Eram do inimigo.

Soldados brasileiros em posição avançada de observação

De repente, um tiro de carabina. A bala tombou um alemão que descia a colina em direção à ravina atrás da casa dos brasileiros. Atratino, comandante da 1.ª Companhia de Petrechos Pesados (CPPI), foi o autor do disparo que instalou o inferno na paisagem. A resposta veio das metralhadoras alemãs. Tiros encurralaram o capitão e sua tropa. Havia uma única saída: fugir pela janela dos fundos. Todos passaram. Chegou a vez de Duarte. Ao pular, balas lhe alcançaram o corpo. Uma rajada apanhou o tenente no ar.

Soldados brasileiros, oriundos de Sergipe,  com bandeira nazista capturada.

Começava um dos mais duros dias da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Itália. Em 31 de outubro de 1944, os homens de Atratino dispararam 13,7 mil cartuchos de metralhadora, além de 200 tiros com fuzis e carabinas. Seus morteiros despejaram 158 granadas de 81 mm para conter os alemães.

Diário. Cada detalhe da ação da 1.ª Companhia – que pertencia ao 6.º Regimento de Infantaria e tinha 166 homens, a maioria paulistas – está no diário de campanha de Atratino. Dois volumes mostram o dia a dia da unidade. Lá está a morte de Duarte, que marcou os homens da 1.ª Companhia. Os tiros do inimigo não permitiram que o corpo do oficial fosse resgatado e enterrado.

Medalhas e condecorações nazistas, capturadas por soldados da FEB.

“O Atratino tentava arrastar, mas ele (Duarte) era muito alto, pesado, era difícil… Lembro quando (Duarte) falou: ‘Cuidem bem da minha filha’, como uma súplica”, diz João Gonzales, de 92 anos, à época 3.º sargento. Atratino não se conformava. Montou duas patrulhas para encontrar o corpo. Sem sucesso. Cansado, escreveu: “O moral da tropa foi abalado pelos insucessos causados pelo contra-ataque inimigo”. A ideia de que era preciso enterrar Duarte atormentaria o capitão até o fim da guerra.

Dias depois do contra-ataque alemão, a companhia foi transferida com a FEB do Vale do Serchio para o do Reno, no centro dos Montes Apeninos. E ficou na retaguarda em Porreta Terme. No dia 15, voltou à linha de frente em um vilarejo cortado pela estrada 64. Era Riola Vecchia.

Soldados brasileiros condecorados.

Missão. Cinco dias depois, às 4h30, Gonzales recebeu uma missão: restabelecer a linha telefônica entre a 1.ª Companhia e outra unidade do batalhão interrompida pela artilharia alemã. Todo dia ela despejava bombas na tropa brasileira. Gonzales levou três subordinados para ajudá-lo. Em meio a explosões de granadas, ele telefonou para o comandante. “Disse que era praticamente impossível prosseguir e ele disse: ‘Ô, rapaz, você nunca mostrou medo, agora está com medo?’ Falei: ‘Medo não tenho, mas tô colocando em risco minha vida’.” O capitão respondeu: “Vê o que você pode fazer”.

Gonzales andou mais 200 metros na escuridão. De repente, um clarão. “Quando cai a bomba, aquela luminosidade. A gente fica cego, não enxerga nada.” A granada explodiu poucos metros à frente do sargento. Gonzales foi ao chão. Começou a se debater. Olhou para os lados, não viu ninguém. Percebeu três furos no capote, sentiu sangue escorrer. Pensou que seria seu fim. “Fiquei ali com uma hemorragia tremenda, sem poder levantar. Fazia esforço, mas não conseguia, não conseguia.”

Brasileiros no rigoroso frio do norte da Itália

Devagar, Gonzales recuperou a força e “se safou dessa”. Foi para o hospital. De internação em internação, três anos se passariam. No acampamento de Riola Vecchia, deixou amigos, como o sargento Newton Lascalea, de 91 anos. “Também fui ferido. O estilhaço rasgou meu casaco e cortou meu braço.” Lascalea permaneceu até o fim da guerra com a companhia, que participou da tomada de Castelnuovo, combateu à leste de Montese, esteve nos combates de Zocca e participou do cerco aos alemães em Fornovo di Taro. Com a rendição alemã e o fim da luta na Itália, Atratino voltou à ravina onde deixara o amigo. A neve e o frio haviam conservado Duarte. Em 9 de maio, ele enterrou o tenente em Pistóia, com os demais mortos da FEB.